Profissão Cartunista

“Cartunista não pode crer em deuses nem em astronautas, o dia em que acreditar fatalmente irá defender e entrará no difícil dilema de alguns padres de nossa época, que têm a função de salvar a alma e, ao se envolverem em política, acabam cada vez mais tentando livrar o corpo.” Esta frase do jornalista Rivaldo Chinen no prefácio do meu primeiro livro “A transação da transição” no início dos anos 80, iria nortear grande parte da minha produção incrédula de cartunista.

Do Vermelho
Naquele tempo, nossa principal trincheira de resistência, era o semanário “O Pasquim”. Para os cartunistas que viveram os anos de chumbo, liberdade de desenhar e opinar sobre qualquer assunto, foi um direito adquirido no front de batalha, época de luta contra a ditadura militar e a violação dos direitos humanos no Brasil.

O embate sobre a liberdade de criação me acompanharia para sempre, pois, a missão de salvar cada vez mais o corpo ao invés da alma iria me levar ao engajamento político na luta contra o racismo, fazendo com que a utopia da liberdade de criação estivesse intrinsecamente comprometida a luta pelos direitos humanos. Descobri com o tempo que a profissão de cartunista político estava condicionada a uma visão crítica e ao contexto social no qual o artista esta inserido.

Logo, a liberdade de criação é questionável, uma vez que minha liberdade de criação depende muito no que eu acredito e aquilo que eu acredito pode não ser a verdade do outro e sim a minha verdade.

Esse tema vem à tona, de forma global, com o condenável ataque terrorista em Paris. Mais uma vez a de se perguntar: mas quando essa liberdade incentiva o racismo, a homofobia, a intolerância religiosa, devemos também defendê-la? Liberdade para generalizarmos um pequeno grupo de fanáticos a toda religião islâmica como atrasados e terroristas? Liberdade para irmos à TV em nome de Cristo, atacar as religiões de matrizes africanas como religião satânica e do mal?

Essa liberdade honestamente eu já abri mão, faz tempo!

 

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