Projeto Cenas Negras em Encruzilhadas reúne espetáculos, debates e lançamento de livro sobre similaridades entre São Paulo, Minas e Alabama

Tendo à frente o coletivo formado pelos pesquisadores e artistas Luciano Mendes de Jesus, Salloma Salomão e Rita Teles, o projeto parte da simbologia da encruzilhada para pensar a produção poética negra atual em diferentes contextos, considerando, ainda, as mobilidades entre culturas negras do Brasil e EUA. A programação abre no dia 29 de outubro com lançamento de livro e debate com Salloma e a Capulanas Cia de Arte Negra, e segue em novembro com mesas e espetáculos.

Enviado para o Portal Geledés 

O Itaú Cultural recebe no dia 29 de outubro (terça-feira) a estreia do projeto Cenas Negras em Encruzilhadas – Áfricas + Américas, que parte das geografias distintas e similares dos estados de Minas Gerais e São Paulo, no Brasil, e do Alabama, nos Estados Unidos, para fazer uma amostragem de diferentes perspectivas de trabalhos constituídos em torno da cena negra contemporânea. Realizado pelo ator e diretor Luciano Mendes de Jesus, o músico e ator Salloma Salomão e a atriz, produtora e arte-educadora Rita Teles, que integram o coletivo Ponte Elemento Per, a programação segue ao longo do mês de novembro, com mais três debates e três espetáculos teatrais.

 

O projeto estreia no dia 29, às 20h, com o lançamento do livro Negras Insurgências – Teatro e Dramaturgias Negras em São Paulo: perspectivas históricas, teóricas e práticas, seguido de debate com Salloma Salomão e a Capulanas Cia de Arte Negra. O livro compartilha atualizações de pensamentos sobre o fazer teatral negro na cena paulista, o que é uma colaboração para as cenas de outros lugares do país.

 

Para tanto, Salloma Salomão, um dos anfitriões do projeto, recebe para a conversa integrantes da Capulanas Cia de Arte Negra, grupo há 12 anos atua no teatro em São Paulo, ressignificando o lugar das mulheres negras nas várias expressões das artes tradicionais, assim como nas artes negras. Sediado na periferia da Zona Sul de São Paulo, o grupo busca reelaborar passos de homens e mulheres negras que deixaram legados estéticos, filosóficos, dramatúrgicos e teatrais, a exemplo de Maria Nascimento do Vale e Abdias do Nascimento, Margarida e Solano Trindade, Teresa Santos e Eduardo de Oliveira e Oliveira.

 

Encontros

A série de debates que integra o projeto Cenas Negras em Encruzilhadas – Áfricas + Américas entra pelo mês de novembro. Em três terças-feiras seguidas, sempre às 20h, convidados de São Paulo e Minas Gerais trazem olhares diversos sobre a conexão afro-americana do teatro, as transcrições e traduções, e as práticas de teatralidade.

 

No dia 5 de novembro, o debate Teatros Negros em Encruzilhadas e Conexões – Afro-Américas reúne as pesquisadoras Deise Brito e Dione Carlos. Criadoras na dança e na dramaturgia teatral, elas compartilham suas investigações e seus trânsitos para além da geografia do “Atlântico Negro”, tendo como base aportes teóricos e práticos afro-diaspóricos.

 

Deise de Brito é artista da dança e do teatro, educadora e doutora em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista UNESP (2019), fundadora e integrante do Núcleo Vênus Negra e co-fundadora e componente da Ouvindo Passos Cia de Dança. Dione Carlos é dramaturga formada pela SP Escola de Teatro, orientadora artística do Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Santo André e dramaturga convidada do projeto espetáculo da Fábrica de Cultura da Brasilândia. Possui 15 textos encenados, além de publicações em revistas, sites e coletâneas de dramaturgia.

 

No dia 12, a mesa Transcriações de Tradições reúne o ator, diretor, músico e pesquisador Luciano Mendes de Jesus, também idealizador do projeto Cenas Negras em Encruzilhadas, e o professor associado da Universidade Federal de Minas Gerais e crítico teatral Marcos Antônio Alexandre. A dupla abre espaço para diálogos e críticas em torno das criações teatrais e das performatividades negras na atualidade. O foco são os processos pedagógico-artísticos a partir de elementos de africanidades e fundamentos das tradições afro-diaspóricas no Brasil.

 

Luciano Mendes de Jesus trabalha na interface entre teatro e música. Coordena a ação artística Ponte Elemento Per e desenvolve a plataforma Garimpar em Minas Negras Cantos de Diamante, explorando as relações entre os vissungos (cantos de origem Bantu ocorridos no interior de Minas Gerais) e a criação teatral contemporânea. Marcos Antônio Alexandre é, entre outras atividades, integrante cofundador do Mayombe Grupo de Teatro e coordenador do Centro de Estudos Africanos (CEA) e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade (NEIA), ambos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

 

Já no dia 19, a última mesa da programação recebe como única convidada a poeta, ensaísta e dramaturga Leda Maria Martins, para falar sobre Teorias e Práticas das Teatralidades Negras. Reconhecida como pioneira na reflexão sobre a história e estética negra no teatro e dramaturgia brasileiros, ela apresenta um panorama sintético sobre seus estudos e lança novas questões sobre a contemporaneidade.

 

Com uma trajetória acadêmica longa, a mineira Leda Maria Martins é doutora em Letras/Literatura Comparada pela UFMG, mestre em Artes pela Indiana University, Estados Unidos, e pós-doutora em Performances Studies pela New York University, Tisch School of the Arts, Department of Performance Studies. É autora de vários livros, capítulos de livros e de ensaios publicados no Brasil e no exterior, a exemplo de O Moderno Teatro de Qorpo Santo e Afrografias da Memória. Desde 2017 dá nome ao Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras.

 

Palco

De 22 a 24 de novembro (sexta-feira a domingo), o Itaú Cultural encerra o projeto Cenas Negras em Encruzilhadas – Áfricas + Américas com uma série de três espetáculos, todos dirigidos por Luciano Mendes de Jesus, que colocam em cena questões levantadas nas mesas realizadas nas semanas anteriores.

 

Na sexta-feira, dia 22, às 21h, é apresentado Episódio I: Uenda-congembo (morrer). Também com atuação, dramaturgismo e concepção sonoro-musical de Luciano Mendes de Jesus, o espetáculo trata das tensões étnicas e da busca de identidade cultural, partindo do diálogo criativo com os vissungos – cantos desenvolvidos em práticas sociais como a mineração e os enterros.

 

Em suas últimas horas de vida, uma pessoa pode ser tudo o que não sabe. Se é negra, pode experimentar ser branca; se não é negra nem branca, pode experimentar ser um pardal. Se é jovem, pode experimentar ser velha; se não é jovem nem velha, pode experimentar ser uma raiz. Sendo homem, pode experimentar ser mulher; não sendo homem nem mulher, pode experimentar ser uma criança. Quando um canto antigo se tornar o seu único meio de lembrar sua história, será necessário, então, que ela busque estar acordada também dentro dos seus sonhos.

 

Episódio III: Banzo e os Filhos dos Antigos é o espetáculo do dia 23 (sábado), também às 21h. Tendo no elenco Bruna Carmo, Giovanna Monteiro, Hideo Kushiyama, Inessa Silva, Márcio Ribeiro, Prih Roque e Rita Teles, entrecruza histórias etnoficcionais de textos escritos por Conceição Evaristo, Gilberto Freyre, Joaquim Nabuco e Luís Antônio de Oliveira Mendes, entre outros, tendo o mar – a Kalunga Grande – como um território perigoso que as separa.

 

No palco, essas histórias se desenvolvem por meio de personagens como uma menina com reminiscências de lugares e pessoas que ignora de onde venham, e outra que segue obstinada um caminho de volta aos ancestrais. Uma ama de leite que devaneia alimentando saudades e um velho caçador cego buscando um pássaro que pode lhe dizer quem de fato ele é. Seguindo os passos destas figuras vai o espírito de um grande boi que a todos assombra com sua presença antiga.

A Grande Encruzilhada (foto Giovanna Monteiro)

A programação encerra no dia 24 (domingo), às 20h, com A Grande Encruzilhada: Brasil + EUA (de antigos cantos novos poemas), palestra-performance envolvendo reflexões artísticas e sociopolíticas através de cantos de tradição, cenas, textos e imagens gerados a partir do encontro com mestres e mestras das tradições sulistas dos EUA e com artistas urbanos da região. A ação é resultado da residência artística realizada durante o mês de julho deste ano no sul dos Estados Unidos, no estado do Alabama, nas históricas cidades de Birmingham, Selma, Marion e Tuskegee (locais de fundamental importância para as lutas do movimento pelos direitos civis do povo preto).

 

Saloma Sallomão (foto Grazi Ribeiro)

Em cena, misturam-se diários de viagem e impressões da equipe da Plataforma Garimpar em Minas Negras Cantos de Diamante – composta por Jean Rocha, Inessa Silva, Luciano Mendes de Jesus, Rita Teles e Salloma Salomão. Eles abordam o impacto dos encontros dos Vissungos com as Southern Songs em seus locais de origem e as relações humanas mediadas pelas ferramentas artísticas que foram utilizadas. Criando pontes entre as imagens, relatos e reflexões serão performados cantos afro-brasileiros e afro-estadunidenses, além de poemas e textos de autores negros do Brasil e EUA.

 

 

SERVIÇO

Projeto Cenas Negras em Encruzilhadas – Áfricas + Américas

 

ABERTURA

 

Dia 29 de outubro (terça-feira), às 20h

Debate e lançamento do livro Negras Insurgências – Teatro e Dramaturgias Negras em São Paulo: perspectivas históricas, teóricas e práticas

Com Salloma Salomão e Capulanas Cia de Arte Negra

Sala Multiúso (Piso 2)

Capacidade: 100 lugares

Duração: 120 minutos

Classificação Indicativa: Livre

 

MESAS

 

Dia 5 de novembro (terça-feira), às 20h

Teatros Negros em Encruzilhadas e Conexões – Afro-Américas

Com Deise Brito e Dione Carlos

Sala Multiúso (Piso 2)

Capacidade: 100 lugares

Duração: 120 minutos

Classificação indicativa: livre

Marcos Antônio Alexandre (foto Matheus Soriedem)

Dia 12 de novembro (terça-feira), às 20h

Transcriações de Tradições

Com Luciano Mendes de Jesus e Marcos Antônio Alexandre

Sala Multiúso (Piso 2)

Capacidade: 100 lugares

Duração: 120 minutos

Classificação indicativa: livre

 

Dia 19 de novembro (terça-feira), às 20h

Teorias e Práticas das Teatralidades Negras

Com Leda Maria Martins

Sala Multiúso (Piso 2)

Capacidade: 100 lugares

Duração: 120 minutos

Classificação indicativa: livre

 

ESPETÁCULOS

 

Dia 22 de novembro (sexta-feira), 21h

Episódio I: Uenda-congembo (morrer)

De Ponte Elemento Per

Sala Multiúso (Piso 2)

Capacidade: 70 lugares

Duração: 75 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

 

Dia 23 de novembro (sábado), às 21h

Episódio III: Banzo e os Filhos dos Antigos

De Ponte Elemento Per

Sala Multiúso (Piso 2)

Capacidade: 70 lugares

Duração: 100 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

 

Dia 24 de novembro (domingo), 20h

A Grande Encruzilhada: Brasil + EUA (de antigos cantos novos poemas)

De Ponte Elemento Per Sala Multiúso (Piso 2)

Capacidade: 70 lugares

Duração: 80 minutos

Classificação indicativa: livre

 

Entrada gratuita

Distribuição de ingressos:

Público preferencial: 1 hora antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)

Público não preferencial: 1 hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

 

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