Proudhon – Intelectuais progressistas e misoginia

“A tradição de todas as gerações mortas sobrecarrega como um pesadelo o cérebro dos vivos” (Karl Marx)

Esta observação de Marx vale para intelectuais politicamente progressistas, mas socialmente conservadores, com horizontes tacanhos no que as mulheres diz respeito e aplica-se como uma luva a homens considerados na época tais como Pierre Joseph Proudhon (1809-1875).

Proudhon, o fundador do anarquismo francês, expôs com minúcia e sem qualquer rebuço ideias profundamente reaccionárias em relação as mulheres, mesmo se levarmos em conta as coordenadas da época.

As mulheres, dizia, eram fisicamente inferiores aos homens e sexualmente passivas. Os seus atributos físicos, ancas largas e seios volumosos, predestinavam-nas para a tarefa da procriação que seria definidora da sua identidade e função social. O cérebro menos volumoso demonstraria inferioridade intelectual; por isso, tudo apontava para a necessidade de protecção e, consequentemente, de obediência ao homem: “ O génio “é virilidade” de espírito acompanhada de poder de abstracção, generalização, criatividade e capacidade de formar conceitos; a criança, o eunuco e a mulher são carentes destes dotes em igual medida.”

Segundo Proudhon, o papel da mulher esgota-se na função reprodutiva, ela é o instrumento de que a natureza se serve para preservar a espécie; socialmente a sua responsabilidade é cuidar da saúde e do bem estar das crianças e essa é a razão de ser da sua existência, o homem tem de se sacrificar para a manter e fá-lo apenas para assegurar essa função que ela deve cumprir.

Para qualquer mulher apenas se apresentam duas opções: ou mãe ou prostituta: “Qualquer mulher que sonha com a emancipação perdeu por esse facto a saúde da sua alma, a lucidez do seu intelecto, a virgindade do seu coração.”

Assim Proudhon reconhece ao marido o direito de matar a esposa em determinadas circunstâncias que podiam incluir adultério, impudência, traição, alcoolismo ou devassidão, gastos perdulários, furto e persistente insubordinação.” Como se vê um leque de tal modo amplo que parece dar carta branca ao marido para dispor a seu bel prazer da vida da esposa.

Àqueles que defendiam os direitos das mulheres, Proudhon chamava “eunucos literários” e dizia que: “as consequências inevitáveis (da emancipação das mulheres) são o amor livre, a condenação do casamento e da feminilidade, inveja e ódio secreto aos homens e, para coroar o sistema, inextinguível lascívia: tal é invariavelmente a filosofia da emancipação da mulher.”

Estas observações foram proferidas por alguém que aprendemos a estimar a partir dos bancos da escola como um benfeitor da humanidade, só se esqueceram de nos dizer quenós, mulheres, não estávamos incluídas nessa humanidade!!

Fonte: Sexismo e Misoginia

+ sobre o tema

Nota de preocupação e repúdio

Carta Aberta à Drª Gilda Carvalho Ministério Público Federal NOTA DE...

Dia de Luta pela Saúde da Mulher e de Redução da Morte Materna

A deputada Inês Pandeló, Presidente da Comissão de Defesa...

para lembrar

Sessão extraordinária na Câmara vai colocar em votação 7 projetos de Marielle

Na próxima quarta-feira (2) será realizada uma sessão extraordinária...

Mulheres ainda se dividem entre a casa e o trabalho, aponta o IBGE

Mesmo cada vez mais inseridas no mercado de trabalho,...

#GeledésnoDebate: “Não houve respaldo legal para a esterilização de Janaína”

#SomostodasJanaína# Por Kátia Mello Janaína Aparecida Quirino, 36 anos, moradora em...

Mulheres agredidas por PM serão indenizadas no Rio

Ele as xingou, atacou com cabo de vassoura e...
spot_imgspot_img

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...

Misoginia e racismo na renúncia em Harvard

Muitos têm sido os desdobramentos da guerra em Gaza, cujos efeitos se estendem para além da catastrófica situação da população palestina. Os EUA têm sido especialmente tensionados pela...

Homens ganhavam, em 2021, 16,3% a mais que mulheres, diz pesquisa

Os homens eram maioria entre os empregados por empresas e também tinham uma média salarial 16,3% maior que as mulheres em 2021, indica a...
-+=