Psicóloga explica como o racismo impacta a saúde mental da população negra

10/11/25
Ao C.B Saúde a psicóloga Clarisse Rabelo aponta o impacto do racismo no adoecimento psíquico e defende políticas públicas para o fortalecimento da rede de apoio

A relação entre o racismo estrutural e o adoecimento psíquico tem sido cada vez mais discutida. Às jornalistas Mila Ferreira e Sibele Negromonte a psicóloga Clarisse Rabelo afirmou que o racismo é responsável pelo adoecimento psíquico em maior número. “O racismo atravessa todos nós: precisamos pensar em saídas coletivas para problemas que não são individuais”, disse a especialista, nesta quinta-feira (06/11), durante o programa CB.Saúde — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. 

No Brasil, pessoas negras apresentam maior vulnerabilidade frente a quadros de depressão, ansiedade e violência autoprovocada. Dados do Ministério da Saúde apontam que negros têm 45% mais chance de morrer por suicídio do que pessoas brancas.

Outro fator de vulnerabilidade é a exposição a episódios de discriminação, seja como vítima ou testemunha. De acordo com uma pesquisa realizada com apoio do Ministério da Igualdade Racial (MIR), de cada 100 pessoas pretas, 84 relatam já ter sofrido algum tipo de racismo. Para Clarisse, isso reforça a necessidade de respostas coletivas. “O racismo atravessa todos nós: precisamos pensar em saídas coletivas para problemas que não são individuais”, afirma. A psicóloga diferencia bullying de racismo, embora possam coexistir. “O bullying pode estar associado ao racismo; o racismo nem sempre vai ser configurado como bullying. Ele é estrutural e precisa ser identificado em todas as sutilezas”, explica.

O impacto do racismo nas infâncias também exige atenção. Crianças e adolescentes negros apresentam maior evasão escolar, mais punições disciplinares e índices superiores de sofrimento mental. “A criança negra não sai da escola e deixa de sofrer. Ela está sujeita a todos os lugares”, pontua.

O cenário se agrava entre mães-solo pretas, historicamente mais afetadas pela ausência de rede de apoio. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Distrito Federal mais de 15% das famílias são formadas por arranjos monoparentais de mulheres com filhos e sem cônjuge, percentual maior que a média nacional. A maioria dessas mães são  negras, enfrentando dificuldades estruturais para inserir seus filhos na sociedade. “É um abandono não só pelo genitor, e sim pela sociedade. O olhar para essa criança pode estar enviesado pelo racismo, sendo vista como indigna. E pensando nessas mães, eu me pergunto se é possível chegar o assunto de saúde mental para essas pessoas”, questiona a especialista.

No enfrentamento dessa realidade, políticas públicas desempenham papel central. A psicóloga destaca a importância das cotas educacionais. “Elas foram transformadoras. Não reparam o sofrimento, mas têm capacidade de mudar realidades objetivas, acessando universidade e melhores condições de trabalho”, afirma. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), a presença de estudantes negros no ensino superior dobrou desde a implementação da política. 

Assista a entrevista completa:  

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