Pular 7 ondas, vestir roupa branca: conheça tradições de Ano Novo herdadas das religiões afro

Enviado por / FonteG1, por Brenda Ortiz

Muitos rituais de réveillon têm origem no Candomblé e Umbanda. No Distrito Federal, o 'Réveillon da Prainha' reúne seguidores de religiões africanistas, ou não, que fazem questão de entrar o ano de acordo com antigos costumes.

A virada de ano é um momento marcante e de muita festa no mundo inteiro. No Brasil, muitas tradições têm origem nas religiões de matriz africana, como vestir branco e pular sete ondas, e são adotadas por pessoas independentemente da crença seguida.

Em Brasília, uma das festas mais tradicionais de réveillon acontece na Praça dos Orixás, também conhecida como Prainha.

De acordo com o Bábà Joel de Osàgíyan, representante da Umbanda no Distrito Federal, “todo brasileiro tem um pezinho na África“.

“Ações como pular sete ondinhas, passar o réveillon de branco, jogar flores na água, acender velas, são alguns dos bons exemplos desta tradição herdada principalmente do Candomblé e Umbanda”, diz Bábà Joel de Osàgíyan.

Veja abaixo a origem e o motivo de algumas das tradições.

Vestir branco

Vestir branco é a tradição mais conhecida e seguida no Ano Novo. Segundo a Ialorixá Adna Santos, mais conhecida como Mãe Baiana, o branco está ligado ao orixá Oxalá, que simboliza a paz e harmonia nas religiões. 

“Quando você veste uma roupa branca, você também está buscando a paz. A pomba branca, que representa o Espírito Santo na Igreja Católica, a Umbanda também usa esse símbolo. A gente busca a paz. Nós passamos a virada de ano com roupas brancas desejando e pedindo paz para todas as pessoas, para nós, nossa família, nossos amigos, até para os nossos inimigos”, diz Mãe Baiana.

Além do branco, vestir amarelo para “atrair dinheiro” também é tradição de religiões de matriz africana.

Oxum é a orixá do ouro, da beleza e das águas doces, de acordo com essas religiões.

Jogar flores no mar

Oferendas a Iemanjá — Foto: Gabriel Luiz/G1

Jogar flores e velas no mar também é uma tradição herdada do Candomblé e da Umbanda, diz Mãe Baiana. Tradicionalmente, as pessoas fazem oferendas para Iemanjá, a Rainha do Mar, pedindo bênçãos e proteção.

“Segundo a nossa tradição, Iemanjá é dona de todos os ‘ouris’. Ou seja, Iemanjá é dona de todas as cabeças […] ela cuida de todos nós. Quando você coloca uma flor nas águas, você também está agradecendo a Iemanjá pelo cuidado, pelo carinho, a saúde mental”, diz a Ialorixá.

Além de um símbolo de amor, respeito e agradecimento a Iemanjá, as flores também são um pedido de boa sorte e proteção para o ano que está começando.

Pular 7 ondas

Pular sete ondas na virada do ano é uma tradição originária da Umbanda, onde cada pulo é um agradecimento ou pedido para o ano que chega.

O número sete representa as Sete Linhas da Umbanda, entendidos como os sete sentidos da vida ou as sete qualidades de Deus nos sete orixás: Oxalá, Oxum, Oxóssi, Xangô, Ogum, Obaluaiê e Iemanjá.  

“Pessoas que não têm religião passam o réveillon na beira da praia e ali acreditam que pulando as sete ondas estão dispensando algo negativo que houve durante o ano, e buscando algo de bom para o futuro, para que o ano que está chegando seja de paz, de caminhos abertos, de sucesso, de prosperidade. Um ano de tudo de bom”, diz Mãe Baiana.

Segundo a Ialorixá, na tradição, para cada onda que se pula, se faz um pedido. “Cada pulo é um pedido a uma entidade”.

Cada ano é regido por um orixá. De acordo com a Umbanda e o Candomblé, 2025 será regido por Xangô, o orixá da justiça, e Iansã (Oyá), a senhora dos ventos e tempestades. “Esta combinação de forças traz consigo um ano marcado por mudanças rápidas, decisões importantes e a busca por equilíbrio em meio a desafios”, dizem os seguidores das religiões.

Incensos e velas

Adeptos de religiões de matriz africana participaram das cerimônias de Ano Novo na Praça dos Orixás, no Lago Sul, em Brasília — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília.

A mesa farta de frutas está relacionada ao orixá das matas, Oxóssi. Acender incensos e velas e defumar a casa é um hábito africano ligado a limpeza e purificação espiritual, além de afastamento de energias ruins.

“As velas são as luzes que a gente dá para os espíritos, para os nossos ancestrais, para os nossos antepassados. Você dá a luz para aqueles que já foram”, explica Mãe Baiana.

Banho de descarrego com ervas

Outro ritual de réveillon é o banho de ervas. Segundo Mãe Baiana, o banho serve para tirar as energias negativas adquiridas ao longo do ano.

“O banho de descarrego é justamente para isso, para descarregar, tirar, dispensar essas energias negativas. Às vezes chega uma pessoa na sua casa, no seu trabalho, no seu local de convivência, e essa pessoa conversa com você ali dois minutinhos, e quando ela sai, você começa a bocejar, abre a boca… Então isso é o quê? Alguma energia negativa essa pessoa estava, e aí automaticamente ela dividiu com você. Ela vai embora melhor e você fica com essa carga, que dá sono, o corpo fica mole. O banho de erva renova as forças, nossas energias”, ensina Mãe Baiana.

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