“Quando o Crato voltou a ser senzala”

Por Raquel Arraes

No dia 06 de fevereiro de 2013, às 15h, na Rua Bárbara de Alencar, centro comercial do Crato, Francisco do Nascimento foi amarrado a um poste e assim permaneceu durante duas horas. O motivo: em surto, teria quebrado vidraças de lojas.

Francisco do Nascimento, morador do bairro São Miguel possui histórico de outros atentados, como pôr fogo no carro de um vizinho. Ele também possui diversas entradas no Hospital Psiquiátrico Santa Tereza. Segundo a sobrinha, a família não sabe mais o que fazer com Francisco do Nascimento: no hospital não há vagas e ele se torna cada vez mais violento.

Durante as duas horas em que ficou amarrado, algumas pessoas tentaram libertá-lo, ato que foi violentamente rechassado [sic] pelos dois homens que o  prenderam. No mais, a multidão, estonteada, admirava estupidamente o espetáculo do homem que gritava, rugia e pedia por socorro. Diversas autoridades estiveram no local, a exemplo de soldados do Ronda, que observando impávidos, deixaram Francisco na mesma situação com a alegação de que não transportavam doido.

Mas há um outro histórico que pesa sobre Francisco do Nascimento: nasceu negro e pobre. E pior: necessita de acompanhamento psiquiátrico. Dessa forma, por ser negro, pobre e louco, Francisco Nascimento pôde ser amarrado, exposto a ridicularização pública e violentado em sua dignidade humana , tal qual seus ancestrais.

De minha parte, só não podia acreditar que, após tantos séculos, ainda iria presenciar um negro sendo imolado em praça pública.

Viva o Crato! Viva o Brasil!

 

Fonte: Racismo Ambiental

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