Quatro estados brasileiros começam a implantar iniciativa da ONU ‘Escola sem Machismo’

“Divida, inicialmente, o quadro em três colunas e, em plenária, pergunte às/aos participantes o que vem imediatamente à cabeça quando escutam a palavra sexo. Escreva a palavra sexo na primeira coluna do quadro e, conforme forem falando, anote as respostas fazendo uma lista. Na sequência, solicite que façam o mesmo com as palavras: sexualidade e gênero. Uma de cada vez. Ao final, leia todas as definições que surgiram para cada uma das palavras propostas e peça que façam comentários sobre as respostas que surgiram”. Assim começa a Aula 1 do Plano de Aula da iniciativa O Valente não é Violento.

Alunos são incentivados a responder questões sobre gênero e sexualidade. (Foto: Prefeitura de Belo Horizonte)

Por Giovana Fleck Do Sul21

O projeto surgiu a partir da observação de um contexto escolar que, muitas vezes, reprimia os educadores que incitavam discussões sobre sexualidade e gênero. Financiado pela União Europeia e conduzido através de uma parceria com a iniciativa “Escola sem Machismo” da ONU Mulheres, o plano de aulas é uma das medidas da organização para minimizar a violência contra mulheres através da educação. A proposta, é desenvolver o tema em sala de aula de maneira transversal, ou seja, atravessando e desconstruindo um imaginário já estabelecido.

A versão inicial do currículo foi distribuída gratuitamente, através de plataformas sociais. De maneira espontânea, mais de 30 professores da rede pública de todo país retornaram com feedbacks positivos e incentivando o projeto a se expandir. Em pouco tempo, a iniciativa já contava com a adesão de quatro estados brasileiros: Distrito Federal, Bahia, Espírito Santo e Paraíba.

Desses, o Espírito Santo está em fase mais avançada. O Estado já teria apresentado a proposta à Secretaria de Direitos Humos e ganhado aprovação para capacitar profissionais que irão conduzir as aulas na rede pública. Com apoio técnico da ONU Mulheres, 50 escolas iniciarão o ano letivo de 2017 com o plano dentro do currículo básico. A ideia é ampliar para todo o Estado até o início do próximo ano.

Ainda assim, qualquer educador ou estudante pode acessar o plano de aulas e sugeri-lo dentro da sua instituição de ensino. Para Amanda Kamanchek, coordenadora de campanha de enfrentamento da violência contra mulheres pela ONU Mulheres e da iniciativa O Valente Não é Violento, essa atitude orgânica garante que áreas diversas possam ser contempladas com as ideias de maneira menos burocratizada. “Entendemos que é uma defasagem cultural que está presente em todas as esferas, por isso, deve-se agir para que ideias de violência e agressividade não sejam disseminadas”, afirma. Segundo ela, estudantes do ensino fundamental, médio e até superior podem participar das aulas.

“Julieta está namorando há um ano. Recentemente, o namorado dela tem falado que ela está acima do peso e que está com vergonha de sair com ela. Ele faz comentários o tempo todo sobre o corpo de outras 9 mulheres e o quanto Isadora ficaria mais sexy se perdesse peso. Ele mal a deixa comer. Ele diz que só irá se casar com ela depois que Julieta perder, no mínimo, 10 quilos. Que tipo ou tipos de violência ocorreram nessa história?”, questiona uma das perguntas da Aula 3 do plano, sobre violências contra a mulher e Lei Maria da Penha.

O currículo foi elaborado em pouco mais de um ano, levando em conta estudos e pesquisas realizados pela ONU para compreender a violência contra as mulheres como um todo – na visão do agressor e da vítima. Além disso, levantamentos foram realizados considerando a legislação brasileira e outras medidas de sucesso que já estavam sendo aplicadas em escolas pelo Brasil. Com base nisso, o psicólogo Marcos Nascimento – pesquisador na área de Saúde Pública, foi convidado a elaborar seis aulas que contemplam desde estereótipos sobre gênero, raça/etnia e a mídia, até a definição de vulnerabilidade e poder.

Amanda afirma que cerca de 200 estudante já foram submetidos às aulas do plano. “Notamos um crescimento nas discussões muito grande com o passar de pouco tempo. Os próprios alunos começaram a se questionar e levar os questionamento para fora da escola”, conta. Ela também afirma que o foco do projeto é abordar tanto o sexo masculino quanto o feminino, objetivando a igualdade de gênero.”Quando a gente fala de violência contra mulheres e meninas falamos sobre gênero; o que passa pela relação entre homens e mulheres. Acreditamos que o caminho é educar esses homens e essas mulheres para prevenir as diversas formas como a violência pode se manifestar”.

Além do plano de aulas desenvolvido pelo Valente não é Violento, outras atividades promovidas em parceria com a ONU Mulheres estão em andamento. A ideia da organização é expandir a estratégia para públicos masculinos distintos. Além de estudantes e professores, jogadores de futebol, caminhoneiros e refugiados são alvo de diversas ações. A desconstrução ocorre através de estratégias como pesquisas, oficinas, grupos de debates, documentários e peças de teatro. “São várias frentes para aproximar pessoas diferentes”, relata a coordenadora.

Segundo Amanda, para a organização, “a base da violência contra a mulher está na desigualdade de poder e na limitação de alguns valores que envolvem a autoafirmação”. Assim, trabalham empoderamento econômico, liderança e saúde sexual e reprodutiva para desconstruir o conceito de “macho” e mostrar que não há limite entre feminino e masculino e que, além disso, um permeia o outro. “O sucesso ocorre com sustentabilidade, todo dia temos que trabalhar, individualmente ou não, e avançar mais um pouco para chegarmos um pouco mais perto da igualdade de gênero”, conclui.

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