Quem foi Ella Baker, a “mãe” do movimento por direitos civis

Dizem que “por trás de um grande homem, existe sempre uma mulher”. No caso do movimento por direitos civis da década de 1960 nos Estados Unidos, liderado pelo pastor Martin Luther King Jr., essa mulher era Ella Josephine Baker. Defensora ferrenha da democracia, Baker promovia a organização popular e acreditava na habilidade dos povos oprimidos de advogarem por suas causas.

“Ela é uma das maiores, não existe movimento por direitos civis sem Ella Baker. O amor de Ella por pessoas, pessoas negras, pessoas pobres, e sua grande suspeita de liderança messiânica e carismática… Ela queria que todas as vozes fossem ouvidas”, definiu o filósofo Cornel West em uma entrevista à revista Time. Conheça sua trajetória:

Neta de uma mulher escravizada
Nascida no dia 13 de dezembro de 1903, na Virginia, Baker era neta de uma mulher que foi escravizada. Sua infância foi marcada pelas histórias da avó: ela foi castigada por se recusar a casar com um homem escolhido para ela pelo senhor de escravos. As histórias a inspiraram a lutar contra o racismo e as injustiças.

Mudança para Nova York
Alvo de ataques na Virgínia, a família Baker se mudou para a Carolina do Norte, onde Ella frequentou a Universidade Shaw e se graduou como a melhor da classe. Ao se formar, Baker se mudou para Nova York e começou a se organizar politicamente no Harlem, barro da cidade com forte presença de afro-americanos.

Ativismo
Em 1938, associou-se à Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP) e passou a viajar pelo sul do país — na época, ainda sob as leis de segregação de Jim Crow — organizando protestos contra a discriminação e recrutando pessoas para o movimento por direitos civis. Em 1957, Baker se mudou para Atlanta, recrutada por Luther King para ajudar a dirigir Conferência da Liderança Cristã do Sul (SCLC, na sigla em inglês), principal organização por trás do movimento.

Viajantes da liberdade
Em 1960, um grupo de estudantes universitários não foram servidos em uma lanchonete em Greensboro, na Carolina do Norte. Como forma de protesto, eles se recusaram a ir embora, inspirando manifestações semelhantes pelo sul. Baker deixou a SCLC para ajudar os estudantes a criarem o Comitê de Coordenação Não-Violenta de Estudantes. Junto com eles, liderou as “viagens da liberdade”, nas quais os participantes se arriscaram para acabar com a segregação nos transportes. Em 1964, o grupo ajudou a criar o “verão da liberdade”, um esforço para chamar a atenção para o racismo no Mississippi e registrar eleitores negros.

Legado
Em todo seu ativismo, Baker insistiu na importância de uma liderança popular. “Pessoas fortes não precisam de um líder forte”, ela dizia. “Martin não fez o movimento, o movimento é que fez Martin.” O objetivo não era diminuir Luther King, mas mostrar que o poder de uma organização conjunta era maior do que um indivíduo sozinho. Além de participar do movimento por direitos civis, ela defendia a luta feminista (e criticava o sexismo dentro do próprio movimento por direitos civis), apoiou a independência de Porto Rico (nunca alcançada) e se manifestou contra o apartheid na África do Sul. Sempre discreta, permaneceu uma líder ativa “nos bastidores” de diferentes movimentos até sua morte, em 1986, no dia do seu aniversário de 83 anos.

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