Raça, Etnia, Condições de Trabalho e Saúde

Este trabalho pretende abordar as dimensões do que podemos nomear discriminação e humilhação nas relações de trabalho, focalizando casos que ocorrem com trabalhadores(as) negras que chegaram aos serviços de saúde do trabalhador (unidades de saúde do SUS, sindicatos, ongs e institutos de pesquisa). O texto focalizará alguns aspectos
referentes ao entrelaçamento da dimensão subjetiva do racismo e suas manifestações expressas nas relações de trabalho.e ações que serão desencadeadas durante o processo.

Por Edna Muniz de Souza, do BVSMS.saude.gov

Edna Muniz / Foto: CEERT

Várias dimensões estão imbricadas no problema que vamos focalizar uma questão de saúde, bem como uma questão étnico e política, já que envolve aspectos não só referentes à saúde mental, mas principalmente às dimensões sociais que o racismo brasileiro reproduz no acesso ao trabalho e as relações nos ambientes de trabalho.

Maria Aparecida Bento, coordenadora do CEERT, sempre se refere a um ponto de grande preocupação no desenvolvimento de pesquisas e programas de intervenção: o silêncio das instituições com relação aos problemas que atingem metade da população do país – ou seja, os negros brasileiros. Além das dificuldades reais de desemprego, baixos salários e pouca qualificação profissional, temos enfrentado permanentemente o silêncio das instituições no mercado de trabalho, inclusive aquelas “de esquerda”.

Aprendemos muito sobre discriminação racial justamente com esta esquerda branca. Há um grupo de pessoas que se indignam com variadas formas de violação de direitos; mas é muito difícil sensibilizar essas mesmas pessoas e envolvê-las concretamente, para além do discurso, em uma ação efetiva de combate à discriminação e romper com o silêncio institucional instaurado na sociedade brasileira desde a escravidão.

Existe ainda um outro ponto: as instituições de pesquisa no Brasil, governamentais e não governamentais, também silenciam sobre as desigualdades raciais. Atualmente temos algumas iniciativas, surgidas da pressão do movimento negro e de alguns institutos de pesquisa, no sentido de mudar este quadro e procurar instituir a coleta do quesito cor em algumas áreas federais, estaduais e municipais. No entanto, no território de saúde mental e saúde do trabalhador e as pesquisas epidemiológicas não priorizam a coleta e análise de dados de cor/raça.

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