Racionais homenageiam Marielle e outros pretos assassinados em show histórico no Rock in Rio

Enviado por / FontePor Rodrigo Ortega, do g1

Grupo mais importante dos últimos 30 anos da música brasileira nunca tinha tocado no festival. No final de 'Negro drama', público fez coro contra Bolsonaro. Baseado gigante inflável foi jogado na plateia.

Os Racionais MC’s tocaram pela primeira vez na carreira em um show histórico no Rock in Rio, neste sábado (3).

O grupo homenageou pessoas negras assassinados ao tocar a música “Negro Drama” (veja acima). Imagens de Marielle FrancoAgathaMoïseMoa do KatendêJoão PedroCláudiaKathlenDurval e outros brasileiros mortos apareceram no telão (clique nos links para relembrar as histórias de cada um).

No final da música, o público fez um coro contra o presidente Jair Bolsonaro.

O grupo mais importante da música brasileira dos últimos 30 anos nunca tinha tocado no Rock in Rio. Em um dia dominado pelo rap, eles foram a atração principal do palco secundário, o Sunset. O show terminou sob chuva fina.

Na plateia estavam músicos como MC Hariel, que cantou mais cedo no mesmo palco. Sem os Racionais, os melhores artistas que cantaram neste segundo dia de Rock in Rio não existiriam, dos novinhos combativos do funk paulista às novas estrelas do trap de cria carioca.

O palco tinha duas grandes escadas ao fundo, como se fosse uma estação de trem de São Paulo. Amigos figurantes, com destaque para um palhaço e uma pessoa de moto no final, davam um aspecto teatral ao show.

Outro elemento cênico foi um baseado inflável gigante com o nome da banda que foi jogado ao público e logo estourado. Não que Mano Brown precise de mais que um microfone.

KL Jay tocou quase como uma faixa só o repertório dominado pelo álbum “Nada como um dia depois de outro dia” (2002), com apenas “Capítulo 3, versículo 4” de “Sobrevivendo no inferno” (1997), uma das mais celebradas da noite.

“Jesus chorou” e as duas “Vida loka” foram cantadas do início ao fim por muita gente na plateia – mesmo com um público aparentemente cheio de pessoas mais novas do que o grupo criado em 1988.

Racionais (Foto: Marcos Serra Lima/g1)

Mas o grande momento foi mesmo “Negro drama”, com as fotos ao fundo incentivando o público a cantar mais ainda com Brown e Edi Rock. Foram exibidas no telão imagens de:

  • Marielle Franco: vereadora executada no Rio em 2018; atiradores estão presos, mas os mandantes ainda não foram encontrados, 4 anos depois;
  • Durval Teófilo: morto por um vizinho na porta do condomínio, em São Gonçalo; o atirador alega que o confundiu com um ladrão;
  • Ágatha Vitória Sales Félix: menina de 8 anos baleada dentro de uma kombi, quando voltava para casa com a mãe no Complexo do Alemão, em 2019;
  • Moïse Kabagambe: congolês espancado até a morte, a pauladas, por homens em um quiosque na Barra da Tijuca, em janeiro deste ano;
  • Cláudia da Silva Ferreira: auxiliar de serviços atingida por uma bala perdida em Madureira, depois posta por PMs num porta-malas da viatura para ser socorrida, mas acabou caindo no asfalto e foi arrastada por cerca de 250 metros. Caso foi em 2014;
  • João Pedro Mattos Pinto: jovem de 14 anos baleado durante operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em 2020;
  • Moa do Katendê: mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, assassinado em uma discussão político-partidária; ele era contrário ao então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, hoje candidato à reeleição, e o assassino era a favor;
  • Genivaldo de Jesus Santos: aos 38 anos, morto em abordagem de policiais rodoviários federais em Umbaúba, no sul do estado de Sergipe. Ele foi asfixiado após ser posto dentro de um porta-malas tomado por uma fumaça branca;
  • Luana Barbosa dos Reis: morta após ser espancada, segundo testemunhas, por policiais militares em Ribeirão Preto, em 2016.
  • Kathlen Romeu: grávida de 3 meses, foi morta com um tiro de fuzil no peito disparado por um policial militar do Rio de Janeiro aos 24 anos, em 2021.
  • Miguel Otávio Santana da Silva: menino de 5 anos que caiu do 9º andar de um prédio de luxo no Centro de Recife. A criança estava sob cuidados da então patroa da mãe, que trabalhava como doméstica.

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