“Racismo coletivo” na loja “Belíssima” no Madureira Shopping

Este é mais um caso de racismo do cotidiano das negras e negras no Brasil, que quando levado à justiça, termina no máximo com uma condenação por ofensa e assédio. O racismo em si é escamoteado.

Foto: Reprodução Mama Press

Por Marcos Romão Do Mama Press

Nos casos de racismo, quiseram os legisladores separar o ataque racista individual, que a lei chama de “injúria racial” do ataque a um coletivo de negros, que a legislação chamaria de racismo. A diferença intrínseca entre as duas agressões é nenhuma, e nos dois casos, a vítima sofre a violência perpetrada pelo racista.

Foto: Geraldo Ribeiro

O que aconteceu com Karine Fernandes, contado por ela e sua publicação e registro feito pelo jornalista do Extra Geraldo Ribeiro, é o que eu poderia chamar de “racismo coletivo”, quando olhamos pelo lado dos autores os casos que conhecemos.
Uma vendedora da loja Belíssima, onde Karine acabara de provar uma roupa que não gostou, corre atrás de Karine e a acusa de ter roubado um casaco que trazia em sua bolsa, que não vendia este tipo de casaco. A vendedora a acusa de ladra.

Karine acompanha a vendedora até a loja. É pressionada de forma agressiva pelo segurança. Karine chama a polícia e familiares, pois tinha consciência de seus direitos e de que estava sendo agredida enquanto pessoa. Karine espera duas horas pela chegada dos policiais do 190. Dois policiais à paisana que dão segurança na área, se aproximam e dizem para ela deixar disso. Karine vai até a delegacia, lá é destratada, principalmente depois que afirma querer dar queixa por calúnia e difamação, constrangimento  e agressão verbal e psicológica. Os policiais da delegacia tentam induzi-la a deixar disso. Dizem que é uma banalidade. Os policiais da delegacia “zangados” por Karine não aceitar seus conselhos contra a lei, resolvem acusá-la de furto.

Aos prantos, Karine vai para casa catar a nota de compras de seu casaco. Acha a nota de compra e volta na delegacia para buscar o casaco de sua propriedade. O casaco sumiu. Os policiais dizem que foi mandado para a perícia. Que perícia?

Karine Fernandes sofreu um caso de racismo institucional que envolveu entre os agressores, funcionários de uma loja famosa, seguranças particulares e policiais de uma delegacia. Karine foi vítima de um racismo coletivo e continuado, que só as pessoas negras parecem ter conhecimento, pois para todos o agressores lhes parecem que este é o modo natural e normal,  de se tratar pessoas negras que entrem numa loja do Rio de Janeiro e sejam consideradas suspeitas.

No mínimo a loja “Belíssima ” deve ser chamada pela justiça a se retratar pelos constrangimentos causados à Karine Fernandes e pagar indenização pelos seus danos morais e caso o seu casaco fique desaparecido para sempre, que também pague a sua propriedade porventura perdida.

O Sos Racismo Brasil  associado da Mamapress da Rede Mamaterra, irá entrar em contato com a advogada dela e participará das ações que Karine Fernandes venha a propor e organizar.

Abaixo a reprodução da matéria do Jornal Extra sobre o caso Karine Fernandes.

Mulher vai à DP registrar queixa de calúnia e difamação e sai acusada de furto

Geraldo Ribeiro

A autônoma Karine Fernandes dos Santos Santana, de 26 anos, moradora na Pavuna, compareceu na última quinta-feira, na 29ªDP (Madureira) para prestar queixa de calúnia e difamação sofrida numa loja de roupas do bairro. A jovem, que havia sido acusada injustamente, por uma vendedora, de furtar um casaco que na verdade era seu, contou que saiu da delegacia na condição de acusada.

Nesta quarta-feira, ela voltou à DP para provar, por meio de apresentação de nota fiscal e fotografias que era a dona de fato da roupa. Ela saiu da delegacia com um termo de declaração, no qual pede para reverter a acusação contra a vendedora, pelo crime que originou a sua ida ao local, na semana anterior.

— Fiquei desnorteada em casa caçando essa nota, encontrei ela, trouxe aqui, mas não consegui recuperar meu casaco, pois estão dizendo que foi para a perícia — disse a moça, sobre a peça comprada em 28 de abril, numa loja de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, conforme comprovante apresentado à polícia.

A revolta maior de Karine, é com relação à forma como ela diz ter sido tratada tanto pela vendedora, como pelos policiais que conduziram a ocorrência. A jovem contou que sentiu humilhada na loja e na delegacia.

Tudo começou na quinta-feira passada, quando ela entrou no estabelecimento e resolveu experimentar uma roupa, que não a agradou. Karine disse que saiu do provador, devolveu a peça e foi embora. Momentos depois, já noutra loja, na mesma rua, a vendedora da primeira loja veio atrás dela, acusando-a de ter levado do estabelecimento o casaco preto que estava com ela.

— Ela (a vendedora) me abordou, puxou meu casaco e começou a falar que eu tinha pego da loja. Fui me defendendo, falando que era um absurdo e ela dizendo que as câmeras iriam provar (que ela estava falando a verdade) e eu dizendo que era aquilo mesmo que eu queria (as imagens das câmeras). Eu comecei a chorar, minha voz estava trêmula — afirmou.

Karine seguiu a moça, recuperou o casaco, já dentro da primeira loja, onde teria começado uma seção de constrangimentos, que continuou na presença de um segurança, que ameaçou agredi-la. Ela contou que ligou pra o 190 e para familiares e aguardou por cerca de duas horas a chegada dos policiais, que tentaram convencê-la a não levar o caso à delegacia. Na DP, os constrangimentos teriam continuado, dessa vez por parte dos agentes que a atendeu.

— Eu arrisco dizer que o atendimento na delegacia foi pior do que a acusação de furto, porque também aqui tentaram me persuadir a não levar o caso para frente. Enfim, tratando como se fosse um caso bobo. Tinha ainda o menosprezo como mulher e preta. A partir do momento que eu disse que ia levar pra frente, gritaram em alto e bom som que eu seria indiciada por furto.

A advogada Roberta Cristina Eugênio, do gabinete da vereadora Marielle Franco, presidente da Comissão de Defesa da Mulher da Câmara Municipal, a qual Karine recorreu, disse que vai acompanhar a apuração da atuação dos policiais junto a Corregedoria da polícia Civil e , com a ajuda da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, pretende encaminhar o caso de Karine à Defensoria Pública do Estado, por meio do Núcleo Contra a Desigualdade Racial.

– Embora não tenha havido uma acusação verbal de cunho racial, Karine sente que na verdade a abordagem se deu pelo fato de ela ser negra. É um caso que reverbera para o racismo estrutural na sociedade e mostra como as pessoas negras são tratadas – disse a advogada.

A loja Belíssima, onde ocorreu o fato, foi procurada pelo EXTRA, mas a gerência informou que não se manifestaria. A vendedora, não foi localizada.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que as investigações estão em andamento na 29ª DP (Madureira) para apurar o caso. “Partes e testemunhas estão sendo ouvidas. O casaco foi encaminhado ao ICCE para realização de perícia”, diz a nota.

ERRATA: NÃO FOI NO SHOPPING-MADUREIRA CASO DE RACISMO PUBLICADO NA MAMAPRESS.

Por Marcos Romão

ERRATA DA MAMAPRESS: ERRAMOS AO PUBLICARMO EM EDIÇÃO DE 18.05.2017, QUE O CASO DE RACISMO CONTRA ELIANE FERNANDES TERIA ACONTECIDO EM UMA LOJA DO SHOPPING-MADUREIRA.

RECEBEMOS A INFORMAÇÃO DA ASSESSORIA DE IMPRENSA DO SHOPPING,  QUE A LOJA BELÍSSIMA FICA NUMA RUA PRÓXIMA E NÃO NO SHOPPING-MADUREIRA.
PEDIMOS DESCULPAS PELO OCORRIDO.

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