“Não há sensibilidades nas escolas para perceber que as ‘brincadeiras’ com crianças negras são realmente racismo e preconceito”. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa intitulada “As questões étnicas raciais na comunidade escolar”, realizada como trabalho de conclusão do curso de história de Francy Junior, do Movimento de Mulheres Negras da Floresta.
A pesquisa, que teve como cenário três escolas de Manaus, sendo da rede pública municipal, estadual e particular, surgiu a partir de observações feitas pela pesquisadora dentro do Grupo Dandaras. “Observei que a maioria das companheiras não tinha terminado o ensino médio e entre os motivos estava sobreviver no ambiente escolar e lutar fora deles. Muitas delas desistiram de frequentar a escola”, explicou Francy.
Didáticas
Com base nessa realidade, mais de 180 alunos passaram por uma série de didáticas, a fim de que se chegasse a uma conclusão. Entre as atividades realizadas pela pesquisadora estavam se identificar com artistas em fotografias, escolher bonecas e ler textos.
Na primeira didática, “Com quem você queria parecer?”, os alunos tinham as opções de fotos de artistas, inclusive negros, e tinha que escolher. “Os artistas negros eram sempre deixados de lado, ou por último, na escolha dos alunos”. O mesmo processo se repetiu com os alunos do ensino fundamental, que deveriam escolher entre bonecos brancos e negros. A maioria escolheu os brancos.
Segundo a pesquisadora, a maioria dos alunos afirmou não ter preconceito, mas ressaltaram que não tinham amigos negros e classificaram com “brincadeiras” suas atitudes com eles. “Mas são essas ‘brincadeiras’ que tiram os alunos da escola, que faz com que eles se afastem e não terminem o estudo, mas essa não é a realidade apenas de Manaus”, comentou.
Francy disse que as famílias devem se atentar para esses casos. “Infelizmente há casos que os pais não têm conhecimento e não sabem como agir. Mas há os que lutam pelos seus direitos”.
Fonte: Em Tempo