Cerca de 80 pessoas ficaram feridas nos confrontos entre imigrantes e italianos (Foto: AFP)
Seguindo, paralelamente, a tendência de países como Suíça e França, o governo italiano vem endurecendo posturas e ações contra os imigrantes. No último dia 10, cerca de 1 mil imigrantes foram transferidos de suas casas e empregos, em Rosarno, na Calábria, para centros de refugiados ao redor da Itália.
Considerados ilegais pela gestão de Silvio Berlusconi, os imigrantes foram levados por causa de protestos nos quais reivindicavam legalizar sua situação e empregos garantidos pelo governo.
Mas, em meio a consequências da crise econômica, com escassez de empregos, o governo instaurou leis que complicam a renovação de documentos e a permanência deles no país.
A posição que a Itália vem tomando, para Deyse Ventura, do Instituto de Relações Internacionais da USP, reflete as políticas “fascistas” de Berlusconi. “A Itália, tolera, por exemplo, que membros da Liga Norte, cuja carta programática é essencialmente xenófoba e racista, organizem “patrulhas cidadãs”, lembra. A categoria citada foi criada pela nova legislação de imigração, em agosto de 2009, que permite a grupos de voluntários, avalizados pelas prefeituras, fazer rondas nas ruas das cidades para garantir a segurança pública.
Professor de direito internacional da UnB, Márcio Garcia, alerta para o fato de medidas como as tomadas pela Itália e por outros países da Europa estimulares a violência contra imigrantes e também o tráfico de pessoas.
“Quanto mais dificuldades encontram esses estrangeiros, mais se aproximam de pessoas que possam lhes ajudar, e aí começam a correr riscos de se tornar uma mercadoria no mercado negro de tráfico de pessoas e de trabalho escravo”.
Para Garcia, o envolvimento da máfia calabresa nos protestos pode ter relação. “Além do interesse de preservar a identidade europeia, podem estar querendo ganhar dinheiro com esses imigrantes que o governo não quer deixar entrar”, observa.
De acordo com estimativas da agência Reuters, há 8.000 imigrantes ilegais morando em fazendas sem luz e água em Rosarno. Os imigrantes, segundo grupos de direitos humanos, trabalham em colheitas de frutos e são explorados por organizações mafiosas como a Ndrangheta.
Terrorismo
Além de problemas de exclusão e risco de tráfico ou trabalho escravo, outro problema que leis cada vez mais restritas podem causar é, segundo Deyse, a formação de movimentos terroristas europeus contra os imigrantes. “Em um continente em que é disseminado o preconceito contra os imigrantes, parece-me mais provável que os xenófobos, e não os imigrantes discriminados, organizem-se sob a forma de células terroristas”.
A especialista toma como exemplo as ações violentas do governo francês em Calais. “Elas visam espalhar terror entre os imigrantes ilegais e na população local”, explica. “No lugar de promover a integração social e combater as redes de trabalho escravo para as quais são recrutados os imigrantes ilegais, a escolha da Europa é, claramente, a criminalização da imigração indesejada”.
1° de março
Ativistas que se opõem à postura do governo estão organizando para o dia 1° de março o “Dia Sem Imigrantes: 24h Sem Nós”, um movimento que surgiu na internet, já tem força na França e agora está ganhando adeptos na Itália.
Quem organiza é o grupo Primo Marzo 2010: Sciopero degli Stranieri (Primeiro de Março 2010: greve dos estrangeiros) e tem como objetivo um protesto pacífico para mostrar a importância do trabalho dos estrangeiros para a sociedade.
No dia 20 de março, o movimento Blacks Out, marca o Dia Sem Imigrantes, que terá inicio a partir das 0h01. Os manifestantes fizeram um vídeo que retrata como seria um dia sem imigrantes no país.
Fonte: Refugies