Racismo pode comprometer Copa de 2018 na Rússia

Por Ariel Cristina Borges e Vinícius Mathias

Em pleno século 21, o esporte, como reflexo da sociedade em geral, ainda enfrenta problemas de racismo. O caso mais recente foram as ofensas sofridas pelo volante Tinga, do Cruzeiro, em partida disputada no Peru contra o Real Garcilaso pela Copa Libertadores. Incrédulo com tamanha imbecilidade dos racistas, o jogador disse que trocaria todos os seus títulos por uma vitória definitiva contra o racismo. Nessa vitória, Tinga não se restringiu apenas ao futebol, mas sim, a uma vitória em todos os lugares, em todas as áreas. Uma vitória na sociedade, na vida.

Dentre os vários casos de racismo no futebol, “vale” lembrar do caso de Grafite, também pela Libertadores, mas de 2005. Desábato, do Quilmes, chamou o atacante brasileiro de “negrinho” e “macaco”. O argentino recebeu voz de prisão em pleno estádio do Morumbi e foi levado para a delegacia, onde Grafite também prestou depoimento. O problema foi que Grafite resolveu retirar a acusação tempos depois. Atitude contrária em relação ao que pretende fazer o jogador do Manchester City, Yaya Touré.

Aos que pensam que tamanha imbecilidade é “privilégio” sul­americano ou brasileiro, como nos casos do zagueiro Antônio Carlos? do árbitro Márcio Chagas da Silva? e do volante Arouca, por exemplo, estão enganados. No “primeiro mundo”, o racismo é presente, constante e quiçá de maneira pior do que nas Américas. E não é apenas em campos periféricos. Os casos mais frequentes são em duas das ligas mais famosas, ricas e importantes da Europa: a Liga Italiana e a Liga Espanhola. Além desses dois países, quem se “destaca” no assunto racista é o palco da Copa do Mundo de 2018, a Rússia.

Na Espanha, os brasileiros negros têm sido alvo do racismo. Em novembro de 2013, após ser expulso no clássico contra o Sevilla, o zagueiro Paulão, do Bétis, sofreu insultos de sua própria torcida. Imitações de macaco foram realizadas das arquibancadas do estádio Benito Villamarín e fizeram um homem forte de mais de um metro e noventa de altura chorar. Para o lateral Daniel Alves, do Barcelona, esses atos racistas são recorrentes e comuns em vários estádios da Espanha. O jogador acha, inclusive, que a batalha contra o racismo é uma “guerra perdida”, como afirmou em janeiro do ano passado. Ofensas que voltaram a ocorrer no último final de semana contra ele e Neymar, quando gritos de macacos e uma casca de banana foram vistos e ouvidos pela torcida do Espanyol no duelo contra o Barcelona.

Racismo é racismo em qualquer lugar

Já na Itália, o preconceito atinge até o maior craque atual da seleção, Mario Balotelli. Em maio do ano passado, em pleno estádio San Siro o atacante recebeu cânticos racistas de torcedores da Roma que visitaram Milão para enfrentar o Milan. Super Mario respondeu em campo fazendo gestos de silêncio aos “torcedores”. Também em 2013, outro atleta do Milan foi alvo de racismo. Em partida amistosa contra o Pro Patria, o ganês Kevin­Prince Boateng chutou a bola para a arquibancada, tirou a camisa e deixou o campo de jogo depois de sofrer tais ofensas. Os companheiros de time e o próprio adversário foram solidários a Boateng e também saíram do gramado e a partida foi cancelada. A onda de imbecilidade tem sido tão grande na Itália que o diretor financeiro do Schalke 04, Peters Peter, afirmou em setembro que Prince trocou o país da bota pela Alemanha por conta da onda racista. “Ele queria deixar o Milan por causa dos numerosos episódios de racismo durante a sua permanência na Itália”.

Após ser vítima de racismo tanto na Itália, quanto na Espanha, o atacante Samuel Eto’o, atualmente no Chelsea, teve problemas também na Rússia. O país que sediará a Copa de 2018 vem apresentando casos graves de racismo. O Anzhi (time no qual Eto’o jogou) teve sua torcida jogando bananas e imitando macacos quando o lateral brasileiro Roberto Carlos jogava por lá.

Em 2012, quando teve que mandar um jogo em Moscou, os jogadores do Anzhi foram perseguidos pelos torcedores locais no confronto contra o AZ Alkmaar da Holanda pela Liga Europa.

A maior repercussão que surgiu na imprensa e na Fifa foi quando Yaya Touré decidiu dar um basta na situação. Em outubro do ano passado, Touré foi alvo de imitações de macaco vindas da torcida do CSKA Moscou num jogo pela Champions League e pediu para que o a partida fosse cancelada. Após o jogo, o volante marfinense do Manchester City disse que caso o problema em terras russas não seja resolvido, ele liderará um boicote dos jogadores negros ao mundial de 18.

Isso caiu como uma bomba na Fifa. Só agora a entidade pretende ser mais dura nas punições estipulando multas e eliminações das equipes? e banimento e prisão dos torcedores. O ponto é: uma vítima precisou ameaçar um boicote para que Fifa, a imprensa e a sociedade em geral se dessem conta do problema e começassem a se mexer para fazer algo. Até quando o racismo será empurrado para debaixo dos tapetes? Até quando o racismo continuará impune ou com penas ridículas (como o fechamento por apenas um jogo do setor do CSKA onde a torcida ofendeu Touré)? Até quando o racismo no futebol ou em qualquer outro esporte será tratado apenas pela imprensa esportiva? Até quando o racismo no esporte será tratado como algo à parte da sociedade? Racismo é racismo em qualquer lugar, em qualquer circunstância. A pena deve ser aplicada independente se o caso foi na rua, ou num estádio de futebol? se foi contra uma pessoa comum ou contra um grande jogador? se foi na Rússia ou no Brasil? se foi contra o meu filho ou contra o seu.

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Ariel Cristina Borges e Vinícius Mathias são estudantes de Jornalismo

Fonte: Observatório da Imprensa

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