Por Marco Lacerda
O problema da igualdade é que todos só a desejam com relação a quem está em situação melhor
Racismo é um jeito de ser e de pensar que acredita na existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras, normalmente relacionando características físicas hereditárias a determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré-concebidas que valorizam as diferenças biológicas entre os seres humanos, atribuindo superioridade a alguns de acordo com a matriz racial.
A crença na existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade, levando muito povos a se sentirem inferiores aos europeus.
Hoje em dia pratica-se um tipo de racismo cordial que permite a brancos e negros conviverem bem desde que cada um reconheça o seu lugar, ou melhor, desde que o negro não ouse ocupar o lugar que sempre pertenceu ao branco. No Brasil qualquer pessoa com algum juízo admite que vivemos num pais de desigualdades invencíveis, onde o preconceito e o racismo estão gravados no DNA das pessoas – mesmo que na maioria das vezes elas não percebam – e isso influencia de forma decisiva as relações interpessoais.
Quando se fala em reparação pelos mais de três séculos de escravidão, injúria, opressão e discriminação contra os negros, que marcaram nossa história de forma indelével, ou em tentativas de inclusão social do negro, o sentimento egoísta individual e o medo de ter que ceder quaisquer direitos em favor de uma parcela oprimida da população falam mais alto.
“O problema da igualdade é que todos só a desejam com relação a quem está em situação melhor do que a sua. Esta é uma teoria fantástica e completamente atual”, diz Guilherme Guimarães Sant’Ana, advogado formado pela Escola Superior da OAB/MG. Aliás, uma teoria semelhante à de Martin Luther King JR., ao afirmar que ninguém deseja ceder direitos aos injustiçados, sem que esses lutem por eles. As pessoas desejam, sim, aumentar quaisquer direitos já conquistados e nunca ceder em favor dos menos favorecidos, quando tal ajuda implique em dividir direitos.
“O maior problema a ser enfrentado no combate à discriminação racial no Brasil está no formato covarde como ela se apresenta (ou se esconde). O direito à igualdade é amplamente protegido na Constituição da República em vários de seus dispositivos, o que não garante, porém, a tão sonhada justiça social almejada por alguns poucos constituintes e por boa parte do povo brasileiro”, acrescenta Sant’Ana.
O preconceito racial é uma doença insidiosa, moral e social que afeta os povos e as populações de todo o mundo. É diagnosticada pela catalogação dos seus vários sintomas e manifestações que incluem o medo, a intolerância, a separação, a segregação, a discriminação e o ódio. Apesar de todos estes sintomas de preconceito racial serem manifestados, a única causa subjacente do preconceito racial é a ignorância.
Os artigos que vêm a seguir traçam um panorama da questão racial no Brasil e no mundo atualmente. Você tomará conhecimento – se é que ainda não o tem – da violência e das injustiças que o racismo ainda causam no país. Conhecerá a realidade em que vive hoje a população afrodescendente, a polêmica sobre as cotas raciais nas universidades, o papel desempenhado por expoentes da raça negra e o país do mundo onde o racismo é mais exacerbado. Tudo dito por gente que sabe o que diz e que você não pode ignorar.
Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total