Terra Magazine
Lamentável o silêncio de ontem à noite da Federação Italiana de Futebol (FIGC-Federazione Italiana Giuoco Cálcio), diante da manifestação racista ocorrida, no final de semana, durante a partida entre o Cagliari e a Inter de Milão, na Sardenha.
Na tradicional reunião das segundas feiras, para analisar a rodada, os dirigentes da FIGC preferiram o silêncio, interpretado por muitos como lamentável conivência.
O coro “buuuu”, -que surgiu nos estádios em 2005 quando o atacante Zoro do time do Messina tocava na bola-, voltou com força. E foi ouvido quando Mario Balotelli e Samuel Eto’o, ambos atacantes da equipe da Inter, pegavam na bola.
Por duas vezes, o serviço de altofalante do estádio do Cagliari alertou os torcedores, a recordar que a legislação esportiva prevê a suspensão da partida e a perda dos pontos.
O único que não escutou o coro, e nada colocou na súmula da partida, foi o árbitro Orsato. Vale recordar que o código de justiça desportiva prevê, preventivamente, a interrupção da partida por até três minutos. A falta de registro na súmula, ao certo, serviu de pretexto para a omissão da FIGC.
O endurecimento das regras esportivas teve uma causa próxima e outra remota, esta última referente ao ano de 2005, em face das ofensas ao mencionado jogador Zoro, nascido na Costa do Marfim.
A causa próxima, localiza-se em 2006, num assustador episódio transcorrido no estádio Olímpico de Roma, na partida Lazio x Livorno.
Nos alambrados, junto às bandeiras de córner e para a televisão mostrar, os torcedores da Lazio colocaram faixas estampadas com a cruz suástica nazista: a cruz gamada ( da letra grega gama), entre os budistas, era símbolo de felicidade. Com Hitler, virou símbolo da superioridade da raça ariana e de tragédias.
Não bastasse a marca da intolerância presa nos alambrados, no meio do estádio, em espaço reservado aos “ultra” (torcida organizada) da Lazio, enormes faixas nazi-fascistas foram esticadas. Durante a partida entoaram-se hinos e gritos de guerra de conteúdos racistas, xenófobos e antissionistas.
A propósito, a Lazio era o time do coração do ditador Benito Mussolini: chamou-se Benito porque o pai do futuro “duce” quis homenagear o revolucionário mexicano Benito Juarez.
Com efeito. Os dirigentes da FIGC, em face do ocorrido na última rodada entre Cagliari e Inter, parecem ter esquecido 2006 e a omissão poderá resultar em novas manifestações racistas.
Ainda bem que o presidente do Cagliari não adotou a mesma postura da FIGC. Ele estava nos EUA e assistiu ao jogo por televisão a cabo. Imediatamente, comunicou-se com a mídia italiana e reprovou com dureza a torcida do Cagliari, responsável por envergonhar internacionalmente o “calcio” italiano, atual campeão do mundo.
Só para lembrar e homenagear, Balotelli, nascido em Palermo (Sicília) no ano de 1990, é filho de pobres imigrantes de Gana. Ele foi deixado pelos pais, diante de uma enfermidade, em um hospital público. Abandonado, acabou, posteriormete, adotado pela família Balotelli. Aos 18 anos e segundo a lei, o simpático Balotelli adotou a cidadania italiana e brilhou na seleção italiana sub-20. Samuel Eto’o é camaronês, atleta exemplar e recém contratado pela Inter, depois de brilhante passagem pelo Barcelona.
Pano Rápido. No referido jogo de 2005, a torcida da Inter, onde hoje jogam Balotelli e Eto’o, promoveu estridente manifestação racista contra Zoro, do Messina.
Com muita dignidade, Zoro colocou a bola debaixo do braço e rumou em direção aos vestiários. Então, contou com a solidariedade de Adriano, que imperava no futebol italiano. Adriano fez a torcida silenciar e convenceu Zoro a voltar para o jogo.
Para mim, esta foi a melhor atuação de Adriano e jamais esquecerei de recordar quando o tema for racismo no futebol. Vida longa e feliz a Balotelli, Eto’o, Zoro e Adriano.
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