Rapazes são expulsos de sorveteria após beijo gay e empresa se desculpa

O funcionário do estabelecimento alegou que o local era um ambiente “de família” e que clientes teriam se ofendido com as demonstrações de afeto dos jovens

Por  Mirelle Pinheiro  Do Correio Braziliense 

“Ter que explicar que um beijo gay não é um gesto obsceno já é uma situação cheia de preconceito”, desabafa Raul Perez, 24 anos, expulso de uma sorveteria de São Paulo após beijar o namorado. O caso ganhou repercussão na internet depois do último domingo (8/3), quando o incidente ocorreu na Rua Augusta – na mesma semana em que um adolescente de 14 anos morreu, após ser espancado por ser filho de um casal homoafetivo

O local fica próximo à Avenida Paulista, que reúne anualmente milhares de homossexuais na Parada do Orgulho LGBT. Raul Perez relatou que nunca tinha ido ao estabelecimento, mas aceitou o convite do namorado para tomar sorvete após uma sessão de cinema. “Chegamos de mãos dadas e nos beijávamos eventualmente. Havia, no local, um casal heterossexual com a filha. Quando eles foram embora, o garçom se aproximou batendo palma e pediu para a gente sair do local”. O funcionário do estabelecimento alegou que era um lugar “de família” e que clientes teriam se ofendido com as demonstrações de afeto dos rapazes.

Assustados com a reação do funcionário, os jovens rebateram a crítica e afirmaram que não fizeram nada de errado. “Fiquei surpreso com o comportamento dele, demorei um pouco para entender o que estava acontecendo”.

O caso foi registrada no Centro de Combate à Homofobia (CCH), vinculado à Prefeitura de São Paulo. Raul Perez também enviou um e-mail para a sorveteria com a denúncia de homofobia. “Homossexualidade não é um vírus, as crianças não irão se tornar gays só porque viram dois homens se beijando”, defende.

Diante da polêmica, a loja publicou uma nota de esclarecimento no Facebook:

“Estamos profundamente tristes e perplexos com o ocorrido. Queremos nos retratar publicamente com o casal. Por eles terem passado pela degradante situação de se sentirem errados, quando não fizeram nada mais que demonstrar o sentimento que sentem um pelo outro. Sentimento lindo esse, diga-se de passagem. A culpa não é exclusiva do funcionário. Não é também só do outro casal que se sentiu incomodado. A culpa é da Me Gusta”, diz o texto.

O funcionário da sorveteria foi afastado. Segundo Raul, a resposta da empresa foi a esperada, mas vai seguir com a denúncia no Centro de Combate à Homofobia.

+ sobre o tema

No RJ, decisão judicial garante que 96 trans e não binários atualizem o RG

O Núcleo de Defesa dos Direitos Homoafetivos e Diversidade...

Escritora Carolina de Jesus é tema de debates em universidades americanas

Passei a semana passada viajando pelos Estados Unidos da América. Foi...

Mulher negra: nem escrava, nem objeto – Por: Jarid Arraes

Uma das maiores particularidades do racismo brasileiro é o...

Carta Aberta Brasil Mulheres

À nação, a presidenciáveis, a candidatas e candidatos ao...

para lembrar

spot_imgspot_img

Pesquisa revela como racismo e transfobia afetam população trans negra

Uma pesquisa inovadora do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans), intitulada "Travestilidades Negras", lança, nesta sexta-feira, 7/2, luz sobre as...

Aos 90 anos, Lélia Gonzalez se mantém viva enquanto militante e intelectual

Ainda me lembro do dia em que vi Lélia Gonzalez pela primeira vez. Foi em 1988, na sede do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), órgão...

Legado de Lélia Gonzalez é tema de debates e mostra no CCBB-RJ

A atriz Zezé Motta nunca mais se esqueceu da primeira frase da filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez, na aula inaugural de um curso sobre...
-+=