Dois jovens estavam gravando um rap no improviso em uma rua de Heliópolis, na zona sul, na madrugada do dia 23 de janeiro, quando um deles foi agredido por um PM, pelas costas. A gravação, realizada em um celular, acontecia depois que a polícia militar havia estourado um baile funk na comunidade. Agora vamos considerar alguns fatores: dois jovens – um branco e outro negro – estavam fazendo uma rima e com o celular ligado.
por Maria Teresa Cruz no Ondda
Ao fundo, algumas viaturas. Pelo vídeo dá para perceber que a distância era de quase um quarteirão. Quando o policial se aproxima, ele agride o jovem negro, que cai no chão e o celular, que estava nas mãos do rapaz branco, fica mais alguns segundo gravando e depois para. Muitos podem achar que a cor da pele não ajudou o policial escolher o alvo, mas é um erro. Certamente foi o fiel da balança. Assim como a criminalização do rap, ainda feita por muita gente – e isso, claro, inclui a polícia militar.
A polícia chegou a alegar até mesmo em redes sociais que minutos antes, os rapazes jogaram objetos contra a viatura, mas não conseguem comprovar a afirmação. Uma página no Facebook da Força Tática chegou a publicar o vídeo e tirar uma onda com a legenda: “Fazendo graça depois da PM acabar com um baile funk. Ele não viu o PM chegar…” e vários emojis de estouro e rostinhos chorando de rir. Objetivamente o vídeo mostra dois jovens fazendo um improviso, quando um deles é atacado covardemente pelas costas.
Existe confusão de informações e até mesmo mistura de argumentos. A PM pode até ter ido acabar com um baile funk – aqui cabe dizer que isso valeria um novo texto para discutir o contexto dos pancadões, mas de antemão digo que, sim, a polícia tem poderes e previsão legal inclusive para dispersar baile funk, caso seja acionada e caso flagre algum tipo de crime acontecendo (tráfico de drogas, por exemplo).
Os garotos poderiam até estar no pancadão. Mas naquele momento objetivo do vídeo, não havia baile, não havia uma ação direta dos jovens contra as viaturas. O PM que atacou covardemente o rapaz negro que cantava um rap, caso ele tivesse mesmo atacado a corporação, jamais poderia dar aquele sacode. E sem aviso nenhum. Poderia, talvez, realizar uma abordagem, checar se foram eles mesmos que tinha jogado objetos contra a viatura e realizar os procedimentos legais diante do fato.
Em uma nota enviada à imprensa, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo admite que o caso precisa ser investigado e que os jovens têm todo o direito de formalizar uma denúncia. Ainda assim, colocam em xeque a veracidade do vídeo e se ele aconteceu, de fato, em São Paulo.