A melhor ginasta do mundo na atualidade é brasileira. Protagonista do Campeonato Mundial de Ginástica Artística de Liverpool (Inglaterra), Rebeca Andrade confirmou o favoritismo e, em uma apresentação sem nenhuma queda, conquistou nesta quinta-feira (3) a medalha do ouro do individual geral, prova que indica a ginasta mais completa e, por isso, é a mais importante desse tipo de competição. Nos Jogos de Tóquio, no ano passado, ela havia sido prata.
Em Liverpool, com erro relevante somente nas assimétricas, a brasileira sobrou. Somou exatamente um ponto e meio a mais que a norte-americana Shilese Jones, medalhista de prata. O bronze foi para a britânica Jessica Gadirova, que competia em casa. Rebeca foi a última a se apresentar no solo, na penúltima exibição da sua série embalada por “Baile de Favela”, e seria campeã com nota 12,900. Ela, porém, arrasou. Tirou 14,400. Acabou com 56,899 pontos.
Rebeca ainda disputa outras três medalhas no Mundial, e seriam quatro se ela não tivesse cometido um erro no segundo salto das eliminatórias, no aparelho em que é atual campeão mundial e olímpica. Ela avançou à final em segundo no solo (atrás só de Flávia Saraiva), terceiro nas assimétricas e oitavo na trave. Na final de hoje, a brasileira teve a melhor nota do salto entre as 24 finalistas, a quarta das assimétricas e terceira da trave. No solo, empatou com Gadirova, em disputa que vai se repetir domingo (6).
O Brasil chegou a sonhar em ter uma dobradinha na final do individual geral, mas Flávia Saraiva reclamou de dores no tornozelo durante as eliminatórias, só conseguiu se apresentar nas assimétricas na final por equipes na terça (1), e foi retirada da prova de hoje, visando a final do solo. Com a nota do Pan (54,399), Flavinha teria sido prata hoje.
Esta é somente a segunda vez que o Brasil tem uma medalhista em Mundial no individual geral. A precursora foi Jade Barbosa, bronze em sua estreia em Mundiais adultos, em 2007. Nenhuma brasileira voltou a brigar no topo de uma grande competição até Rebeca ser terceira nas eliminatórias da Rio-2016. Na final, porém, ela não repetiu o desempenho e terminou em 11º.
Depois, sofreu com seguidas lesões que a tiraram de grandes eventos, voltando a competir no individual geral nas Olimpíadas de Tóquio, quando conquistou a inédita medalha de prata, ficando a apenas 0,135 do ouro. Até hoje se discute se a brasileira não foi subavaliada nas assimétricas. Ainda no ano passado, tinha tudo para ganhar o título do Mundial disputado em outubro, mas não competiu no individual geral porque foi poupada no solo.
A final
Rebeca mostrou logo na primeira apresentação da final que o dia era dela. No salto, fez não só o elemento mais difícil apresentado no campeonato, como teve a melhor execução, quase perfeita, valendo nota 9,566, melhor da final. Com 15,166, largou na frente e mostrou quem manda no salto, apesar de ter deixado escapar a chance do bicampeonato no aparelho — nas eliminatórias, ela errou a entrada na mesa na segunda apresentação, conseguiu evitar um acidente, mas não conseguiu vaga na final.
Nas assimétricas, porém, veio a primeira falha. Terceira colocada das eliminatórias neste aparelho, a brasileira não chegou a cair das paralelas, mas cometeu erros que atrapalharam ligações e tiraram a velocidade da apresentação. A nota, 13,800, não chegou a ser ruim, mas tirou mais de oito décimos na comparação com o que Rebeca fez nas eliminatórias e queimou boa parte da gordura que ela tinha, em potencial, sobre as rivais.
O grande risco era a trave, aparelho em que Rebeca teve uma queda na final por equipes. Mas, desta vez, ela passou ilesa, com apenas um pequeno desequilíbrio. Tirou nota até melhor do que das eliminatórias, 13,533, mostrando que é candidata (não favorita) à medalha também na final do aparelho, no domingo.
Pela vantagem conquistada nos outros aparelhos, Rebeca poderia até sofrer uma queda no solo que seria campeã ainda assim. Mas a brasileira foi perfeita. Cravou a apresentação, tirando nota 14,400, levantou o público, e celebrou o título.
Mais Mundial
A primeira final do Mundial foi disputada na terça-feira (1), quando a equipe feminina do Brasil alcançou o melhor resultado de sua história: o quarto lugar. A campanha teve um gosto agridoce porque o país tinha tudo para chegar pelo menos no bronze e conquistar desde já a vaga olímpica para o time. Mas, a ausência de Flávia Saraiva, que só competiu nas assimétricas, e duas quedas de Rebeca e Julia Soares na trave, fizeram o Brasil terminar a 0,9 pontos do Canadá.
Ontem foi disputada a final por equipes masculinas e o Brasil ficou no sétimo lugar. O time caminhava para o quarto lugar, mas todos os três ginastas que se apresentaram no cavalo com alças tiveram quedas. No caso dos homens, o melhor resultado da história é a sexta posição em 2014.
Amanhã (4), Caio Souza e Diogo Soares participam da final do individual geral masculino. Caio tem alguma chance de medalha, se não tiver nenhuma queda. Se ontem ele tivesse repetido o desempenho das eliminatórias no cavalo com alças, chegaria a uma pontuação que, nas eliminatórias, valeria o quarto lugar no individual geral. Depois, entre sábado e domingo, são mais seis finais por aparelhos: Rebeca nas assimétricas, na trave e no solo, Flavinha no solo, Caio no salto e Arthur Nory na barra fixa.