Rio –  A maioria dos bolsistas do Programa Universidade para Todos (Prouni) consegue aumentar sua renda após concluir o Ensino Superior. Conforme pesquisa realizada por Fabiana Costa, doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), dos 150 bolsistas entrevistados, 73% conseguiram elevar seus rendimentos após se formar. Desses, 10,5% viram o salário crescer entre 71% e 100%, e 27,9% mais que dobraram seus ganhos.

Para Paulo Estrella, diretor pedagógico da Academia do Concurso, o diploma em Nível Superior oferece mais oportunidades, além de salários maiores, tanto na iniciativa privada quanto na rede pública. “Hoje, com o mercado de trabalho em expansão e taxas baixas de desemprego, dificilmente o profissional com Nível Superior ficará desempregado”, afirma Estrella.

A Universidade Estácio de Sá, uma das maiores particulares do país, possui atualmente12,6 mil bolsistas do Prouni matriculados em unidades em todo o Brasil. De acordo com a instituição, a maioria dos bolsistas consegue concluir a graduação.

No entanto, Fabiana Costa acredita que falta assistência aos estudantes. Por serem de baixa renda, muitos precisam trabalhar para ajudar nos rendimentos da família e não conseguem permanecer na faculdade. Segundo a pesquisadora, poderia haver mais bolsas e auxílio para esses alunos.

ENTRE CRÍTICAS E ELOGIOS

O programa é uma iniciativa federal, que concede bolsas de estudo integrais e parciais em instituições privadas de ensino superior. Para concorrer às bolsas integrais é necessário comprovar renda bruta familiar, por pessoa, de até um salário mínimo e meio. Já para bolsas parciais, a renda deve ser de até três salários mínimos.

Quando lançado, o Prouni foi criticado tanto por parlamentares quanto por setores da sociedade, que alegavam que a medida era inconstitucional, por se restringir apenas às pessoas de baixa renda.

Em maio do ano passado, porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou o programa constitucional, já que classes mais abastadas podem recorrer a outros meios para ingressar nas universidades de todo o país.

“Vou ajudar a reformar a casa”

Um dos debatedores do seminário ‘Rio, Cidade sem Fronteiras’, organizado pelo DIA e Meia Hora, Jacson Lima, 22 anos, tem certeza que este ano conseguirá realizar o sonho de passar para uma faculdade e estudar Relações Internacionais. Para tanto, o jovem, que trabalha na Fundação Darcy Ribeiro como auxiliar de serviços gerais, se mira no exemplo da irmã Jaqueline, 24 anos, que faz o terceiro período de Enfermagem na Faculdade São Camilo graças a uma bolsa do Prouni.

“A melhor faculdade do curso que eu quero é a da UFRJ e estou me preparando para conseguir passar no Enem. Mas se não conseguir a pontuação necessária, vou tentar o Prouni. Como a minha irmã fez”, diz Jacson, também morador do Morro dos Prazeres e com muita esperança de aproveitar as chances que tem recebido para sair da roda vivada pobreza — o 2º grau ele concluiu no Ceat.

Para ele, que dorme na sala da casa em que vive com os pais e um irmão de criação, além da irmã já citada, ajudar a mãe a reformar a casa é prioridade máxima.

“Se tivesse Prouni na época dela, minha irmã não seria copeira”

Melhorar a renda, comprar uma casa nova e ajudar a família. Os resultados da pesquisa da PUC-SP estão no radar da jovem Alice Agapito Belarmino, 18 anos, moradora do Morro dos Prazeres. Com os pais desempregados, Alice só pensa em dar à Dona Leonice, a sua mãe, a alegria de sua vida: ter uma filha com diploma.

“Vou fazer Design Gráfico”, diz a jovem, atualmente cursando o 3º ano. “Minha irmã de 30 anos teve de parar no 2º ano para trabalhar. Ela é a única em casa que tem emprego. Se tivesse o Prouni na época em que estudava, tenho certeza que ela não seria copeira”, diz.

Alice vive um drama em casa. Seu quarto está interditado por conta das chuvas que abalaram a estrutura da casa. Por isso, tem de dormir com a mãe, a irmã e a sobrinha num único quarto. “Depois de comprar a casa aqui mesmo no morro, vou fazer pós-graduação na Europa. Antes do Prouni, o pessoal da comunidade só chegava à faculdade com padrinho.”

Reportagem de André Balocco e Stephanie Tondo

 

 

Fonte: O Dia