Resposta do Ilê Aiyê sobre Acusação de Machismo

Texto retirado do perfil oficial do bloco Ilê Aiyê no Facebook

Eles pensam que podem apagar nossa memória, mas a força do Ilê nos conduz nessa trajetória…

(Jocilee e Toinho do Vale)

Acredito que muitos já saibam da história de luta e resistência do Ilê Aiyê e que este nasceu dentro de um terreiro de candomblé, onde a figura feminina é mais que importante e muito respeitada. Desde a sua primeira saída no carnaval de Salvador, em 1975, o Mais Belo dos Belos, como ficou conhecido o Ilê, sempre teve a preocupação de levar a história do povo negro para as ruas e reafirmar sua força e beleza sendo este o primeiro bloco a expor exclusivamente as caras pretas na rua. Importante ressaltar que aqueles 120 pretos e pretas foram escoltados pela polícia, que questionava o que eles queriam, afinal, vivíamos naquela época o final da Ditadura Militar no país.

Liberdade? Igualdade? Justiça? Educação? O Ilê Aiyê nasceu em um período em que eram poucos os negros que tinham acesso a essas quatro palavras… Éramos minoria, e entre esta, estava Fernando Ferreira Andrade Filho, que enquanto fundava o primeiro bloco afro do Brasil, era o único negro da turma de medicina de 1975, na Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, se formando em 1980.

Os temas do Ilê não são escolhidos aleatoriamente e nem são levados desta forma para a Avenida. É feita uma pesquisa meses antes, nossas diretoras, isso mesmo DIRETORAS, e nosso Presidente, viajam, pesquisam, colhem informações, convivem com as pessoas, para passar da melhor forma este tema para os associados e admiradores do Ilê. A entidade possui muitos associados fundadores, podemos chamá-los assim, e estes se orgulham em vestir a fantasia do bloco.

De fato, os dirigentes do Ilê se indignam ao ver as modificações que alguns associados fazem na fantasia, assim como os associados antigos culpam os dirigentes por não terem uma posição mais rígida com estes. O fato é que nosso diretor foi questionado por uma associada por conta da roupa transformada de uma foliã, afinal de contas o bloco sempre prezou pela uniformidade das suas fantasias. Fernando então, perguntou a esta foliã se ela não sentia vergonha de modificar a fantasia daquele jeito. Até por que quem é associado sabe que pedimos para evitar alterações que venham descaracterizar o modelo da fantasia. Para quem conhece o diretor Fernando Andrade sabe o quão educado ele é, mas falar baixo ao lado de um trio em pleno carnaval, já é pedir demais.

Não queremos calar a sua voz, mas não é justo que a trajetória de uma entidade tão séria seja atingida por suas palavras, e por mais que você desmereça a importância dos dirigentes, são estes que lutam anualmente para colocar o bloco na rua, e você não sabe o trabalho e desgaste que isso causa.

É um desrespeito com o Ilê Aiyê, com os associados e principalmente com as associadas que respeitam a entidade e não modificam suas fantasias. É um desrespeito também à memória de Mãe Hilda, que inclusive foi citada no texto da foliã.

O que mais nos surpreende é a quantidade de instituições sérias que publicaram o texto em seus sites e portais, sem o mínimo de apuração. Acreditamos que qualquer denúncia merece investigação, e sabemos que ninguém é culpado até que se prove o contrário. Nem mesmo uma entidade como o Ilê está imune de ser julgada e condenada por toda a sociedade. Esperamos que reflitam sobre o fato e analisem a nossa conduta nesses 38 anos de história.

Vale salientar que este foi um dos nossos melhores carnavais, tivemos uma ótima visibilidade na mídia, pois, de acordo com a pesquisa da MidiaClip, que calcula o tempo de exposição na TV durante o carnaval de Salvador em 24 emissoras locais e nacionais, o Ilê Aiyê figurou em terceiro lugar, atrás apenas do EVA e do Coruja de Ivete Sangalo. Fomos também o sétimo colocado em exposição no quesito artista/banda, provando que bloco de negão tem muito a oferecer a seus patrocinadores. Conseguimos também consolidar a segurança de corda, problema que vínhamos tentando resolver a algum tempo. Vimos nossos associados e associadas felizes, cantando e dançando com a nossa nova ala de canto formada por Jauncy, Iana Marucha, Iracema Kiliane e Marcos Costa, este último com uma estréia em grande estilo no nosso bloco.

As portas do Ilê Aiyê estarão sempre abertas para quem quiser chegar. Venha conhecer os nossos projetos educacionais, sejam voluntárias e voluntários, pois talvez a sua voz tenha mais força assim e mais pessoas possam ouvi-los.

Lá nos anos 70 ainda se ouvia

Que o negro era feio

Sem direito a alegria

Dete Lima aparece, junto ao Ilê então

Fazendo o corpo e a cabeça e a transformação

(Rita Mota)

 

Fonte: O Diário

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