Ativista da comunidade Alto das Pombas, em Salvador (BA), Rita Santa Rita tem convicção do papel transformador que o movimento de mulheres negras têm desempenhado ao pautar debates e reivindicar um novo pacto civilizatório. “A convicção que mais me encanta é a ruptura. Não estamos aqui para fazer acordo ou reforma no Estado brasileiro. Temos consciência que, dentro da estrutura do patriarcado, do racismo e do poder branco, não nos interessa sentar para negociar com o Estado”, diz.
Pedagoga e professora aposentada da rede municipal de ensino de Salvador, Rita integra o Grupo de Mulheres do Alto das Pombas (GRUMAP) há 43 anos. A organização, fundada em 1982, atua na luta política contra o racismo e o sexismo. Além disso, sua trajetória no ativismo também envolve sua participação no Movimento Negro Unificado (MNU) durante a década de 80. “Sou muito grata ao GRUMAP e ao MNU por me entender como sujeito protagonista de um processo histórico de enfrentamento ao racismo”.
Sobre a construção da primeira Marcha de Mulheres Negras, em 2015, lembra da mobilização para conseguir recursos para que ativistas da sua comunidade chegassem até Brasília. Embora não tenha conseguido estar presente no ato, acompanhou as imagens pela televisão e vibrou junto com outras militantes.
Ao analisar os 10 anos da realização da manifestação, considera que o movimento de mulheres negras “têm conduzido com muita responsabilidade o desenhar dessa nova ordem social”. Para isso, é fundamental pautar reparação e Bem Viver, motes da segunda Marcha Nacional de Mulheres Negras, prevista para ocorrer em 25 de novembro de 2025.
“Diante do que foi a escravidão, a Marcha das Mulheres Negras é, acima de tudo, reivindicar reparação de uma dívida histórica e anunciar uma nova ordem social desse país, que é o Bem Viver”, destaca.
Para Rita, lutar por Bem Viver significa estar “o tempo todo dizendo que não cabemos nessa sociedade racista, capitalista, sexista e homofóbica”. Essa disputa também se traduz em sua atuação cotidiana no GRUMAP. A ativista destaca que esse é um movimento comprometido com o pensar das estruturas políticas e econômicas da sociedade brasileira, unindo esforços para construir uma nova possibilidade de vida para o povo negro.
“[O Quilombo dos] Palmares nos ensinou que é possível uma cidade da diversidade. Luiza Mahin nos ensinou que é preciso fazer enfrentamento, é preciso derrubar a casa grande, é preciso destruir. Não cabe a casa grande numa nova ordem social”, diz.
Sobre a realização do ato em novembro, declara:

A conversa com Rita Santa Rita integra a série de entrevistas “Mulheres Negras em Marcha”, que dialoga com ativistas do movimento de mulheres negras de diferentes gerações e regiões do país, a fim de pautar a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. As entrevistadas vão relatar suas trajetórias de luta, seu engajamento nas marchas e os motivos que as fazem marchar cotidianamente.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver trata-se de uma continuação do movimento que aconteceu em 2015 e reuniu milhares de militantes em Brasília: a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Uma década depois, o movimento de mulheres negras pretende reunir 1 milhão de marchantes na capital do país a fim de reivindicar um novo pacto civilizatório.