Uma roda de conversa virtual sobre racismo e intolerância religiosa, promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Campos, no Norte Fluminense, na última segunda-feira (22), foi invadida por ofensas racistas aos palestrantes. Entre as ofensas, participantes contam que foram chamados de macacos.
“Muitos gritavam: ‘ Fora daí seu macaco! Fora daí seu macaco!’ Foi muito triste!”.
“As meninas e meninos mais jovens que estavam na sala (virtual) com a gente se sentiram desesperados. Foi uma cena simplesmente aterrorizante pra gente naquele momento”, acrescentou o subsecretário de Igualdade Racial e Direitos Humanos de Campos, Totinho da Capoeira, um dos palestrantes do evento online.
Além das ofensas racistas, os hackers também promoveram atos antidemocráticos e exibiram vídeos de pornografia durante o evento. Com isso, a roda de conversa virtual precisou ser interrompida.
“A gente se vê invadido, a gente se vê impotente, sem conseguir ter reação, com gritos de ‘macaco’, com cenas eróticas, com um silenciamento absurdo”, disse o subsecretário.
As agressões sofridas pelos participantes do evento da OAB, no entanto, não são um caso isolado. A prática ficou conhecida como “zoombombing”, que é uma invasão incômoda feita em transmissões na internet.
“É um pensamento que cresceu muito no Brasil e no mundo nos últimos 10 anos. Na medida que alguns setores que têm esse pensamento começaram a chegar nos poderes executivo e legislativo eles se sentiram mais empoderados e têm usado essas práticas como práticas de intimidação”, afirmou Ivanir dos Santos, membro da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa da OAB.
A OAB de Campos considerou a invasão também censura e um ataque a instituição. Por isso, o caso já está sendo analisado pela Procuradoria Institucional da entidade.
“Esse momento de pandemia é um momento muito complicado pra gente. Tudo está com uma efervescência muito grande nas redes sociais. A gente deve fazer um grande quilombo na internet, um grande quilombo cibernético. A gente precisa fazer esse enfrentamento de forma igual. É claro que, para nós, negros e negras, nada é igual, mas nós temos que lutar pra dar justiça à essa igualdade, tornar as coisas equânimes”, finalizou o Totinho Capoeira.
A prática de racismo é crime, com pena de um a três anos de reclusão, mesmo quando as agressões acontecem pela internet.