Sacerdotes de Umbanda e Candomblé denunciam Brasil por intolerância religiosa

Objetivo é responsabilizar Estado brasileiro pelos recentes ataques a centros de religiões afro-brasileiras na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização de Estados Americanos (OEA)

Por Thiago Borges Do Periferia  em Movimento

“Não foi fácil chegar aqui, e não é agora que vamos recuar”, resume Luiz Antonio Katulemburange Amorim, fundador e sacerdote do Asé Ylê do Hozooane, roça de Candomblé localizada em Parelheiros, Extremo Sul de São Paulo.

Diante do racismo religioso enfrentado durante séculos e com os recentes ataques de intolerância a terreiros e barracões de religiões afro-brasileiras – especialmente no Rio de Janeiro –, Katulemburange é um dos sacerdotes de Umbanda e Candomblé que se mobilizam para processar o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA). A ação será lançada na próxima segunda-feira (30 de outubro), na Câmara Municipal de São Paulo.

No início de outubro, durante a realização do curso “Diversimapa” em parceria com o Sesc Interlagos, o Periferia em Movimento esteve no Asé Ylê do Hozooane e ouviu de Katulemburange a importância de se defender e lutar pelo Candomblé. Assista:

O objetivo da ação na OEA é chamar atenção nacional e internacional para a intolerância religiosa no Brasil, criando um constrangimento político e moral para o Estado brasileiro e obrigando o governo a tomar medidas concretas.

“Uma eventual condenação resultará não apenas em indenizações às vítimas de intolerância religiosa como também irá obrigar as instituições brasileiras a reverem o modo de atuação frente às religiões afro-brasileiras”, explica Hédio Silva Jr. advogado, mestre e doutor em Direito pela PUC-SP e ex-Secretário da Justiça do Estado de São Paulo (2005-2006).

“A sentença final tem validade no sistema jurídico brasileiro como se fosse proferida pelo Judiciário brasileiro. A sentença poderá, por exemplo, obrigar o Brasil a aperfeiçoar leis e adotar políticas públicas, programas governamentais e destinar recursos para ações voltadas para a superação da discriminação contra Candomblé e Umbanda”, continua.

Para Katulemburange, a ação é uma questão de sobrevivência. “Se a gente não lutar, daqui um tempo a gente não existe mais”, conta ele, que nasceu em Itabuna (BA) e foi iniciado na religião aos 12 anos de idade.

Aos 20, veio para São Paulo acompanhar a mãe em uma cirurgia do coração e nunca mais voltou. Aqui, passou a atender pessoas em uma casa alugada no Jabaquara. Entretanto, precisava viajar até Mongaguá para buscar folhas ou fazer rituais em cachoeiras. “Se mudar para cá (Parelheiros) foi uma exigência de Obaluaiê. Meu orixá é o senhor da terra, o princípio e o fim. Por isso viemos para cá, pois aqui está a natureza”, diz ele.

Desde 1980 no Extremo Sul, o Asé Ylê do Hozooane enfrentou resistência de vizinhos mas nunca foi alvo de ataques por racismo religioso. Porém, em tempos de ódio escancarado, Katulemburange não quer esperar para ver. “Eu não vou decepcionar meus ancestrais”, completa.

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