Saia do armário

Por Fernanda Pompeu

A expressão sair do armário se consagrou como a ação de uma pessoa assumir socialmente sua homossexualidade. Então ao ouvi-la, sempre imaginamos um gay – homem ou mulher – rasgando a fantasia do modelo hétero. Alguém que declara: É assim que eu sou!

Em sentido contrário, aqueles que não saem do armário seriam os chamados enrustidos. Gays que optam por viver sua dimensão sexual em segredo. Ou seja, não falar sobre isso, mesmo quando todos em volta sabem e cometam pelas costas.

Mas sair do armário não se restringe apenas a gays, lésbicas, transexuais e transgêneros. A ação de se mostrar não se apequena a assumir um gosto sexual. Ela é bem mais ampla e diz respeito a enrustidos de todos os tipos – sejam homos, bis, héteros etc.

Por exemplo, os enrustidos em cima do muro. Aqueles que nunca entram em assuntos polêmicos. Os que sentem pavor de se comprometer. Não dizem em que partido votam, nem para que time torcem. Nunca espere deles a iniciativa para decidir na hora qualquer questão.

Há os enrustidos do mundo do trabalho. Veem que o chefe está errado, ou que a rotina de procedimentos está emperrada. Mas, quando aparece a oportunidade de falar, declaram que tudo vai bem, obrigado. Nunca espere solidariedade e companheirismo deles.

Também tem os enrustidos da patrulha. Aquele pessoal que fica esperando você postar uma asneira no Facebook, dizer uma palavra politicamente incorreta, ser flagrado ouvindo uma música brega para cair matando.

Ou, mais complicado, quando estamos trabalhando em alguma atividade que desgostamos, por não termos a coragem e o valor de correr atrás do que intimamente queremos. E ficamos esperando que uma força superior abra a porta do armário.

Não é por aí. Sair do armário depende da iniciativa de cada um. Depende da coragem de afastar os cabides, esvaziar as gavetas, dispensar as roupas que não servem mais. Às vezes, abrindo mão do próprio armário.
É claro que não é fácil. Ao sair do armário atrairemos desafetos, e seremos duramente criticados pela turma do não sei, não ouvi, não vi. Mas só assim podemos ganhar espaço e oxigênio para expressar o nosso sincero eu.

 

 

Fonte: Yahoo 

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