Salve a diversidade!

Representação da 'imensa variedade humana' não pode se restringir à manutenção de privilégios reservados a quem é branco

Respeitar a diversidade é fundamental para o convívio civilizado. Contudo, é impressionante o quanto o conceito de diversidade é mal compreendido —ou incompreendido. A quantidade de pessoas, instituições e empresas que não conseguem enxergar a pluralidade como algo benéfico para todos é incrível.

Conversava sobre isso no mesmo dia em que li um artigo sobre diversidade, abordando o “recuo na onda woke” —definida no texto como a “obsessão em torno de temas como raça, gênero e orientação sexual”— no mundo. Uma das hipóteses aventadas é a de que as pessoas “vão aprendendo que é péssimo” que valores como respeito, tolerância e acesso a oportunidades “se convertam em ideologia”, dando vez ao “esquecimento dos melhores valores que estavam lá quando tudo começou.”

Respeitar a diversidade é fundamental para o convívio civilizado – Catarina Pignato

Para me restringir ao nosso quintal, valores como o respeito à diversidade, a tolerância e o acesso a oportunidades similares sequer eram lembrados, muito menos considerados, pela sociedade brasileira até bem pouco tempo. O que inclui o meio acadêmico, a política, as instituições públicas, as empresas, as escolas…

A imensa diversidade humana não pode ser enquadrada em dois ou três pertencimentos coletivos, tampouco está restrita a critérios de gênero, raça e orientação sexual com certeza. O que torna evidente que a representação da “imensa variedade humana” não pode se restringir à manutenção de privilégios reservados a quem é branco.

A promoção da diversidade está longe de ser um favor ou ato de bondade. Ao contrário. Trata-se de uma atitude lucrativa e bastante proveitosa para os negócios. E o fato de muitos executivos e empresas agirem de maneira tímida quanto ao tema, ou motivados pelo “medo”, evidencia o quanto são necessários os códigos de conduta, os cursos de letramento (racial e de gênero), as comissões de ética, os disque denúncias…

Justiça e virtude deveriam ser medidas pela régua da equidade de chances de aprender e de viver —preferencialmente com dignidade. Em especial numa sociedade desigual, racista, homofóbica, misógina, violenta e elitista como é a brasileira. Salve a diversidade!


Ana Cristina Rosa – Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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