Clodoaldo Arruda – escrito para o Portal Geledés
O samba-rock é uma típica manifestação popular: espontâneo, criativo e, ao mesmo tempo, embora seja um fenômeno de massa, completamente alternativo. Na nossa indústria cultural, toda e qualquer manifestação nascida na periferia e de difícil rotulação acaba crescendo e se criando sozinha. No caso do samba-rock, o grande diferencial é que, ao contrário do que se pensa, esse swing contagiante não é um gênero musical, e sim, um estilo de dança!
No final dos anos 60, na cidade de São Paulo, a população dos bairros periféricos da capital e do interior de São Paulo realizava muitas festas familiares que, originalmente, eram batizados, aniversários, noivados ou casamentos, mas sempre se transformavam em bailes.
Não demorou muito para que esses bailes invadissem os salões e danceterias, e, assim, nasciam os bailes nostalgia. Em um baile nostalgia, evento em que a dança samba-rock é predominante, toca-se vários gêneros musicais, como o rock´n´roll, o mambo, o soul, o samba, o jazz e o rithm´n´blues, todos ritmos populares nos anos 50 e, principalmente, nos anos 60 e 70. A confusão que fez com que a dança samba-rock fosse confundida com gênero musical começou quando, além de todos estes ritmos, nasceu também um estilo, uma batida, sincopada e com um swing irresistível: o mundo conhecia o “samba esquema novo” de Jorge Ben. Não era samba, não era rock, não era bossa nova, e era tudo isso ao mesmo tempo. Exatamente por isso, Jorge foi incompreendido pelos sambistas da época, era Jovem Guarda demais, pelos puristas da MPB, era rock demais… Pós-bossa nova, pré-tropicalismo, era o máximo.
Nas periferias de todo o Brasil caiu como uma bomba, principalmente no eixo Rio-São Paulo, onde os bailes já conheciam o jeito de se dançar inspirado nos passos marcados do funk e do soul, à la Black Power, misturada com os passos de rock´n´roll conhecidos nos filmes da sessão da tarde, à la “Nos Tempos Da Brilhantina”e, no Brasil, tudo isso ganhou o molho do samba e pronto, nascia a nova dança, o samba-rock! Embora os passos servissem para se dançar de tudo que os DJs da época tocavam, a verdade é que aquele som novo que Jorge Ben tinha inventado, caiu como uma luva naquele jeito gostoso de se dançar a dois. Daí, convencionou-se chamar o estilo de batida que ele inventou e que influenciou outros artistas, de samba-rock, daí a confusão de rotular assim o estilo de Jorge Ben, Bebeto, Cravo e Canela, Clube do Balanço, Luís Wagner, Marku Ribas e tantos outros.
É necessário que se compreenda essa definição de samba rock quanto “dança”, e não quanto um gênero musical, para que se evite a saturação do estilo genial criado por Jorge Ben, e se valorize ainda mais o samba-rock quanto expressão corporal, que é a sua real importância como um bem cultural dos negros de São Paulo, aonde essa dança nasceu e se popularizou, não só na capital, mas em todo o interior do Estado, sendo mais tarde exportado Brasil e mundo afora, dando lições de habilidade, talento e criatividade, e principalmente de orgulho e auto-estima elevada, já que além de swing, o verdadeiro(a) apreciador(a) do samba-rock e frequentador(a) dos bailes nostalgia preza a elegância, a beleza, o charme, a vaidade e o desenvolvimento cultural e intelectual.
Foto: Jairo BDs