São Paulo viu crescer 46,8% os casos de denúncias de crimes de racismo

por PLÍNIO DELPHINO 

O número de queixas sobre discriminação por raça, cor, etnia e procedência nacional na Delegacia de Crimes Raciais e de Intolerância (Decradi) aumentou 46,8% de 2010 para 2011. Para o advogado Hédio Silva Júnior, um dos mais importantes líderes do movimento negro, ex-secretário de Justiça e acadêmico da Faculdade Zumbi dos Palmares, os índices revelam coragem. “Não é a sociedade que está mais racista. São os cidadãos estão cada vez mais lutando por seus direitos. Pela igualdade”, destacou.

Em 2010, a delegacia especializada registrou 32 casos de discriminação por cor ou origem, enquanto que no ano passado foram computadas 47 queixas nesse sentido.

A delegacia detectou no crime de injúria ( que ofende verbal, por escrito ou até fisicamente a honra e a dignidade de alguém) o maior número de instauração de inquéritos policial em 2010. A maioria se tratava de ofensas relacionadas a raça e etnia (46 %).

O número de casos de discriminação racial em São Paulo é bem maior do que esse recorte da delegacia especializada. Qualquer distrito policial também pode registrar casos dessa natureza. E é no 9Distrito Policial de Osasco, na Grande São Paulo, que está sendo apurada queixa de constrangimento ilegal contra a vendedora Clécia Maria da Silva, de 57 anos. Em fevereiro do ano passado, ela foi detida por um segurança do hipermercado Wal Mart da Avenida dos Autonomistas, em Osasco. A vítima, que havia comprado pães e peças para seu fogão, pagou sua conta e quando saía foi agarrada pelo braço. “O segurança disse que eu tinha coisas a mais na sacola. Me obrigou a mostrar tudo. As pessoas ficaram olhando, como se eu tivesse roubado. Depois, ele viu que estava tudo certo e me disse que esse era o procedimento quando o suspeito fosse de cor”, revelou.

Advogado de Clécia, Dojival Vieira disse que pediu ao Ministério Público que haja denúncia por injúria racial.

Apesar de o número de queixas ter aumentado, os resultados na esfera judicial não são animadores. De acordo com o Relatório do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (LAESER) – 2009/2010, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as ações por supostos crimes de racismo em tribunais de segunda instância brasileiros geralmente têm o réu como vencedor das causas. No período 2007-2008, 66,9% das ações foram vencidas pelos réus, 29,7%, pelas vítimas e 3,4% eram em branco.

“A nossa lei penal é um excelente instrumento. Acredito que se for aplicada com maior rigor, quem discrimina será menos estimulado a cometer o crime”, observou. “É preciso criar uma cultura legal. Treinar membros do ministério público e do judiciário para lidar com esses casos”, sugeriu.

A delegada Margarette Barreto, titular da Decradi, disse que há necessidade de se falar cada vez mais sobre o tema. “A questão racial precisa ser discutida. Há uma necessidade da implementação da educação para diversidade, visando a diminuição dos delitos”, disse.

 

 

Fonte: Dia a Dia

+ sobre o tema

Observatório de Favelas propõe protocolo de atuação de polícia nas comunidades

A organização Observatório de Favelas apresentou hoje proposta...

O Brasil é uma enfermeira preta vacinada

Na política e na vida, imagens importam. Neste domingo...

Frente considera programa de cotas paulista ‘preconceituoso e equivocado’

Manifesto destaca que "medidas como as apresentadas agora não...

Uruguaios protestam contra racismo após briga entre mulheres

Milhares de cidadãos uruguaios marcharam pelo centro de Montevidéu...

para lembrar

Bomba no protesto contra morte do menino Jesus

Na sexta-feira da Paixão de Cristo, a Polícia Militar...

Juíza de Vara Criminal diz que réu não parece bandido por ser branco

"Vale anotar que o réu não possui o esteriótipo...

Banheiro, intimidade e racismo

Durante todo o ano, pichações racistas foram feitas no...
spot_imgspot_img

Estado como um dos negócios mais rentáveis das elites

Os filhos dos amigos viram estagiários, os estagiários viram assessores, os assessores viram secretários. E, no final, todos se orgulham de suas difíceis trajetórias...

O racismo no DNA do Brasil

O fato de o Brasil ser a nação mais miscigenada do mundo serve de prova científica do grau de perversidade do racismo institucionalizado nessas terras. Publicada na semana...

Quando Tony Tornado cerra o punho e levanta o braço, a luta dos afrodescendentes se fortalece

Tony Tornado adentrou o palco do Festival Negritudes e, antes de dizer qualquer palavra, ao lado do filho, Lincoln, ergueu o punho direito. O...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.