Shirley e Julian

Por: KENNETH MAXWELL

 

Shirley Sherrod era funcionária do Departamento da Agricultura dos Estados Unidos. Ela é negra. Andrew Breitbart, um conhecido ativista conservador, divulgou na internet um vídeo pesadamente editado e enganoso de um discurso que ela proferiu em reunião da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), organização de combate ao racismo.

 

Na versão editada, as declarações dela parecem justificar o racismo.

Na tempestade de controvérsias que se seguiu, Sherrod foi demitida sumariamente de seu posto. A Casa Branca se apressou em condená-la.

Quando o vídeo integral do discurso foi divulgado, ficou claro que Shirley Sherrod estava defendendo a tolerância racial. O presidente Barack Obama teve uma longa conversa telefônica pessoal com ela para se desculpar.

Mas o caso terminou por macular todos os envolvidos.

Sherrod perdeu o emprego. A cultura de reação instantânea inspirada pela internet, sem que a verdade seja investigada, foi exposta uma vez mais.
Barack Obama, o primeiro presidente negro dos EUA, se viu de novo forçado a assumir a defensiva em mais um embaraçoso episódio da interminável saga racial norte-americana.

O australiano Julian Assange, 39, fundou o site wiki leaks.org. Trata-se de um cruzado mundial da internet que vive sem paradeiro determinado e mantém a rebeldia.

Em colaboração com três importantes publicações internacionais – “The New York Times”, a revista alemã “Der Spiegel” e o “Guardian”, do Reino Unido-, ele divulgou milhares de documentos secretos relacionados à guerra do Afeganistão, um dos maiores casos de revelação de informações sigilosas na história dos EUA, comparável apenas ao caso dos “papéis do Pentágono”, em 1971, durante a Guerra do Vietnã.

Cobrindo o período de janeiro de 2004 a dezembro de 2009, quando Obama autorizou o início de um reforço de 30 mil soldados para as forças estacionadas no Afeganistão, os relatórios de campo mostram o Taleban ganhando força, os civis afegãos cada vez mais desiludidos com seu governo e a crescente frustração das tropas norte-americanas.

Os documentos também sugerem que a agência de espionagem paquistanesa ajuda a insurgência afegã. O “Guardian” publicou um mapa que detalha o número crescente de ataques dos insurgentes às forças da coalizão.

A Casa Branca e o Pentágono argumentam que essas revelações “não são novas e tampouco esclarecedoras”.

Mas não adianta chorar pelo leite derramado.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

 

Tradução de PAULO MIGLIACCI.

Fonte: Folha de S.Paulo

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