O shopping denunciado por uma família após uma abordagem racista contra adolescentes já registrou ao menos outros quatro casos semelhantes nos últimos sete anos.
O que aconteceu
Família registrou boletim de ocorrência contra o Shopping Pátio Higienópolis apontando que houve uma abordagem racista contra adolescentes. Uma segurança do estabelecimento abordou uma jovem branca perguntando se dois adolescentes negros estariam pedindo dinheiro a ela. Todos eram colegas de escola.
Os três adolescentes estudam no colégio Equipe, que fica perto do shopping. Eles haviam participado de uma aula extra sobre letramento racial e condutas antirracistas horas antes na escola. Momentos depois, passaram pelo episódio.
Pais que integram uma comissão antirracista da escola estão mobilizando ato em protesto. Ao UOL, a comunicadora Priscilla Cabral disse que familiares estão se mobilizando para uma caminhada da escola até o shopping na próxima quarta-feira (23).
Ao menos outros cinco casos envolvendo racismo repercutiram nos últimos sete anos envolvendo o shopping, de acordo com levantamento da reportagem. Ao UOL, a administração do Shopping Pátio Higienópolis disse que lamenta o ocorrido e que o empreendimento “possui frequente grade de treinamentos e letramento, que será ainda mais reforçada”.
A gente se sente violentado. Não é o primeiro caso. Outro aluno também sofreu violência em 2017. O processo ainda segue a passos lentos e nada aconteceu. Na quarta-feira haverá manifestação saindo da porta da escola. Estamos tentando mobilizar outras escolas de elite da região para que se juntem a esse movimento. A gente vai fazer um ato 13h, saindo da direção do Equipe. A gente vai ocupar esse território, ainda que eles não queiram.
Priscilla Cabral
Outros quatro casos envolvendo o shopping
Em junho de 2017, o MP-SP (Ministério Público de São Paulo) abriu inquérito para apurar possíveis práticas racistas do shopping center. O caso envolveu o filho de um artista plástico, que foi confundido com uma pessoa em situação de rua enquanto tomava chá com o pai, dentro do Pátio Higienópolis.
Fui surpreendido por uma segurança mulher que me perguntou se a criança à minha frente estava me incomodando. Surpreso, inquiri-a sobre razão de seu questionamento. Ela explicitou: tinha ordens de não deixar ‘pedintes crianças’ molestarem quem quer que fosse no shopping. Não precisou explicar mais nada. Apontei para meu filho e lhe perguntei se ela o considerava um pedinte por ser negro. Meu filho é negro; e estava com um abrigo do colégio Sion.
Enio Squeff, pai de uma criança negra, em 2017
Em 2018, o auxiliar administrativo Anderson Nascimento relatou que seu filho de 14 anos sofreu injúria racial de um segurança do shopping. À época, o pai relatou que foi junto com o filho pedir uma informação ao segurança quando o funcionário ordenou que o menino tirasse as mãos do bolso de um casaco.
Eu questionei o segurança do porquê ele mandar meu filho tirar a mão do bolso. Ele respondeu: Eu estou armado e posso fazer isso
Anderson Nascimento, pai de um adolescente negro, em 2018
Em 2019, o shopping foi alvo de protestos de movimentos sociais após pedir na Justiça que a PM apreendesse crianças em situação de rua. O estabelecimento fez uma requisição oficial relatando supostos casos de vandalismo envolvendo as crianças e adolescentes. Contudo, o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) entendeu que a medida promoveria a segregação, impedindo o direito de ir e vir, aos moldes do que aconteceu nos Estados Unidos em 1896, quando a Suprema Corte do país definiu que pessoas negras deveriam ficar em espaços separados.
Em 2022, familiares de três jovens negros denunciaram a loja FastShop do Pátio Higienópolis após os meninos serem perseguidos. Os jovens tinham ido ao cinema e estavam passeando, quando notaram que um segurança os perseguia. Um vídeo de dois minutos gravado por um dos garotos mostrou a atitude do segurança.

Shopping Pátio Higienópolis foi questionado sobre os casos de racismo nos últimos anos. Em caso de manifestação da administração, a reportagem será atualizada.
Abordagem racista
A mãe da adolescente de 12 anos que relatou o episódio desta semana disse que os adolescentes choraram muito. Leni Pires das Merces, mãe da jovem, disse ao UOL:
Ela abordou a menina branca dizendo que a minha filha e o colega dela poderiam retirados, porque estariam pedindo dinheiro ali. Mesmo ela dizendo que eram colegas, a segurança insistiu, dando início a uma confusão. Eles [adolescentes negros] choraram muito.
Leni Pires das Merces, mãe da adolescente
O UOL entrou em contato com o Colégio Equipe, onde estudam os adolescentes. Caso haja resposta, este texto será atualizado.