Sistema policial perpetua racismo, avaliam ativistas

Em evento realizado em Brasília, professora e filósofa estadunidense Angela Davis compara que situações são semelhantes nos dois países. “Como no Brasil, nos Estados Unidos a raça importa quando é para determinar quem vai para a prisão e quem vai para a universidade”. Escritora mineira Ana Maria Gonçalves avalia que “é preciso haver uma mudança em todas as instituições racistas”

“Mesmo que o Brasil tenha sido proclamado uma democracia racial, há problemas sérios (de racismo), que são relacionados à economia, à sociedade e à política”. A opinião é da ativista, professora e filósofa estadunidense Angela Davis, que participa do Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra, que vai até o próximo dia 28, em Brasília, como mostra matéria da Agência Brasil. Para ela, o mesmo fenômeno acontece nos Estados Unidos. “O tipo de racismo que se tem depois (da conquista de direitos civis) é mais difícil de combater que antes”. Ela cita o sistema carcerário e a polícia que, em ambos os países, perpetuam a discriminação. “Como no Brasil, nos Estados Unidos a raça importa quando é para determinar quem vai para a prisão e quem vai para a universidade”. Também participante do evento, a escritora mineira Ana Maria Gonçalves, autora do premiado romance “Um defeito de cor”, avalia ser “preciso haver uma mudança em todas as instituições racistas que temos, que nesse caso do genocídio da população negra, é a polícia”. O Mapa da Violência 2014 mostra que as principais vítimas de crimes no Brasil são jovens do sexo masculino e negros, representando 53,4% do total de homicídios do País.

Por Mariana Tokarnia

Festival Latinidades: racismo persiste no Brasil, reforçam ativistas

Mesmo com a conquista de direitos civis, o racismo persiste em diversos níveis da sociedade brasileira e dos Estados Unidos. A opinião é da ativista, professora e filósofa norte-americana Angela Davis: “mesmo que o Brasil tenha sido proclamado uma democracia racial, há problemas sérios [de racismo], que são relacionados à economia, à sociedade e à política”, disse em coletiva de imprensa no Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra, que vai até o dia 28, em Brasília.

Na opinião de Angela, o mesmo fenômeno acontece nos Estados Unidos. “O tipo de racismo que se tem depois [da conquista de direitos civis] é mais difícil de combater que antes”. Ela cita o sistema carcerário e a polícia que, em ambos os países, perpetuam a discriminação. “Como no Brasil, nos Estados Unidos a raça importa quando é para determinar quem vai para a prisão e quem vai para a universidade”.

No Brasil, o Mapa da Violência 2014 mostra que as principais vítimas são jovens do sexo masculino e negros, eles representam 53,4% do total de homicídios do país. Nas universidades, há um contraste, o Censo da Educação Superior de 2012 mostra que, dos 7 milhões de estudantes, 187 mil são pretos e 746 mil pardos, o que representa 13,3% do total.

“É preciso haver uma mudança em todas as instituições racistas que temos, que nesse caso do genocídio da população negra, é a polícia”, disse a escritora brasileira mineira Ana Maria Gonçalves, também presente no evento. “O governo tem que criar uma polícia mais humanitária, tem que dar cursos sobre como se lida com o racismo dentro das instituições”. Ana Maria é autora do premiado romance Um Defeito de Cor.

O racismo existe também entre as crianças, na escola. A escritora da Costa Rica, Shirley Campbell mora em um bairro nobre em Brasília, no Lago Sul. Quando se mudou para a cidade, ela matriculou a filha, de 4 anos, em uma escola perto de casa. “Ela me perguntou o que era ser preta. Fiquei assustada. Mas respondi que era ser como nós. Ela me respondeu: ‘Eu não quero ser preta, quero ser como todas as meninas da sala'”.

A escritora se disse impressionada porque sabia que no Brasil, a maior parte da população é negra (50,7%), segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Onde estão os negros?”, questiona Shirley, que logo responde: “Eu sei onde estão os negros do Lago Sul, estão nas paradas de ônibus, são os piscineiros, são os que trabalham nas casas”.

O Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra começou ontem (23) e vai até o dia 28 de julho, em Brasília. Na programação estão previstos conferências, debates, feiras, saraus e shows, além de outras atividades. A programação completa pode ser acessada no site do evento.

Fonte: Brasil 247

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