Só um terço das mulheres conhece fatores de risco para câncer de mama

Apesar de o câncer de mama ser um dos tipos que mais mata mulheres todos os anos no mundo, uma pesquisa feita nos Estados Unidos demonstrou que menos da metade das mulheres americanas (43%) conhecem o seu histórico familiar em relação à doença e apenas um terço delas (32%) sabem quais são os seus fatores de risco individuais para evitar que ela aconteça.

Não existem dados desse tipo no Brasil, mas, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama tirou a vida de cerca de 16 mil mulheres em 2019 e estima-se mais de 66 mil novos casos anualmente. Combater a doença é um desafio para todos os países e, por isso, há décadas, o mês de outubro se transformou no “Outubro Rosa”, uma data de referência para conscientização, prevenção e combate ao câncer de mama.

De acordo com os especialistas entrevistados pela Agência Einstein, conhecer os riscos e saber quando é necessário iniciar os exames de prevenção é fundamental para a detecção precoce do tumor. Tal medida melhora o prognóstico e aumenta as chances de cura.

“Conhecer a sua história familiar ou ter a orientação por parte do médico para que a paciente se informe sobre os antecedentes oncológicos da sua família é fundamental para definirmos se essa paciente apresenta alto risco ou risco habitual para desenvolver o câncer de mama”, afirmou a mastologista Danielle Martin Matsumoto, do Hospital Israelita Albert Einstein.

De acordo com a especialista, só desta maneira é possível oferecer um rastreamento adequado, que comece a ser feito na idade certa. “Sempre batemos na tecla de que os médicos que estão na assistência primária devem perguntar os antecedentes familiares da paciente para poder identificar as mulheres de alto risco e encaminhá-las para o especialista [no caso, mastologista] e que solicitará exames adicionais, se necessário”.

Início do rastreamento

A pesquisa americana, encomendada pelo Orlando Health Institute, aponta também que 22% das mulheres entre 35 e 44 anos nunca fizeram uma mamografia e nem planejam fazer uma. As diretrizes americanas recomendam que as mulheres iniciem o rastreamento anual aos 40 anos ou mais cedo, se tiverem histórico familiar.

No Brasil, o Inca e o Ministério da Saúde recomendam que o rastreamento por meio da mamografia seja feito na rede pública apenas nas mulheres entre 50 e 69 anos, bianualmente. Já as associações médicas brasileiras seguem as orientações americanas, recomendando o início do exame a partir dos 40 anos, anualmente.

Assim, mulheres que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) começam a fazer os exames mais velhas e muitas vezes acabam sendo diagnosticadas tardiamente. A Organização Mundial da Saúde recomenda que ao menos 70% das mulheres com mais de 40 anos façam a mamografia anualmente.

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica informou que em 2021 suas associadas realizaram cerca de 1,2 milhão de mamografias – cerca de 25% do total estimado de todas as mamografias realizadas no âmbito da saúde suplementar. A entidade estima ainda que foram feitas 8,1 milhões de mamografias no país, sendo 4,6 milhões na saúde suplementar e 3,5 milhões no SUS.

“Aqui no Brasil, os serviços públicos entendem como adequado iniciar os exames apenas após os 50 anos. Muitas mulheres com menos de 50 não conseguem fazer a mamografia, ainda que pedindo para o seu médico do posto de saúde. No serviço privado é diferente porque instituímos o rastreio a partir dos 40 anos”, diz a médica.

Segundo Danielle, a recomendação da mamografia anual a partir dos 40 anos se aplica para as mulheres de risco habitual (população em geral). Aquelas que são consideradas de alto risco tem recomendação de iniciar a mamografia mais precocemente e, além disso, usar outro método que aumente a sensibilidade diagnóstica (como a ressonância magnética, por exemplo).

Considera-se mulher de alto risco aquela que tem história familiar sugestiva de um câncer hereditário ou que tem a mutação genética confirmada por meio de pesquisa molecular.

“Nós temos mais atenção com pacientes que têm casos de câncer de mama muito jovens na família; se há parentes de primeiro grau com câncer de ovário, de pâncreas, de próstata em homens muito jovens, alguns tipos de câncer de tireoide. Tudo tem que ser avaliado com bastante cuidado. Por isso, incentivar a paciente a conhecer o seu histórico é fundamental”, ressaltou a mastologista.

Danielle ponderou ainda que o fato de o Brasil ter uma cobertura muito baixa de rastreamento mamográfico está ligado a muito fatores, sendo um deles a falta de acesso, especialmente na rede pública.

“São inúmeras explicações possíveis, que passam pela desinformação sobre a importância do exame, pela dificuldade de acesso à consulta médica porque a mulher não pode perder dia de trabalho, pelas ocasiões em que o mamógrafo está quebrado, pelo medo da paciente que acaba deixando o exame de lado”, disse.

A mastologista afirma que o Outubro Rosa é um lembrete para que as mulheres façam os seus exames de rotina, já que o câncer de mama é potencialmente curável quanto diagnosticado precocemente.

“Somado ao aumento da chance de cura, o diagnóstico precoce permite tratamentos cirúrgicos menos agressivos e menos mutilantes, menor chance de necessitar de quimioterapia e de outros tratamentos com alto potencial de toxicidade”, finalizou Danielle.

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