Sobre misandria e a reação do oprimido

Eu sinto que ‘ódio aos homens’ é um honorável e viável ato político, que o oprimido tem o direito a ódio de classe contra a classe que o está oprimindo”

Por Ana Hickmann Do Festival Marginal

Para falar sobre isso, primeiro é preciso que os homens entendam que TODOS eles não só fazem parte da sociedade patriarcal – já vi homem dizendo que não – como são os dominantes nessa sociedade e a perpetuam mesmo sem querer, conscientes ou não. Todo homem é machista e propaga a misoginia, querendo ou não.

Vocês já devem ter visto mulheres dizendo que misandria não existe.

Sim, porque ela realmente não existe como um movimento social ou como uma forma de opressão. Ela é uma consequência, uma forma de defesa que as mulheres encontraram.

Vocês também já devem ter escutado que misandria é o contrario de misoginia. Mas não, não é.

A misoginia mata, abusa, estupra, violenta e espanca todos os dias.

Eu não odeio homens como indivíduos. Eu tenho pai, sobrinho, namorado e amigos homens. E eu não saio por aí xingando ou batendo neles ou sendo agressiva – mesmo sendo totalmente compreensível quando uma menina após passar um ou alguns traumas comece a odiar todos os homens, até mesmo os mais próximos.

Enfim. Eu odeio os homens como classe política.

O conceito de misandria é muito mal interpretado. Colocam as mulheres misândricas como pessoas irracionais, como se o ódio fosse sem sentido.

Mas faz todo o sentido do mundo.

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Desde pequena a gente aguenta “pequenos” atos de misoginia: quando você não pode fazer isso ou aquilo por ser menina, por exemplo, ou quando você precisa fazer coisas para “ter” valor – como se só os homens nascessem com ele.

Tantos abusos verbais, físicos ou psicológicos nós sofremos ao longo da vida? Assédio no ônibus, na balada, no trabalho, no colégio. Tantas relações abusivas, tantas vezes em que somos inferiorizadas intelectualmente. Todas as vezes em que a maternidade, a feminilidade e tantas outras coisas nos foram impostas. Tantas vezes em que tivemos nossos corpos sexualizados e diminuídos a objetos.

Fomos criadas para amar e idolatrar os homens, não desrespeitar nosso “senhor”, não odiar “nosso superior”. E ser sempre meiga, calma. Fomos programadas a não sentir ódio dos homens – mulher só pode sentir ódio se for de outra mulher.

E além de tudo, na maioria das vezes, cada uma tem seu motivo pessoal, um trauma.

A maior parte das pessoas que se ofende com a misandria são homens. Por quê? Porque assusta quando uma mulher se opõe ao que eles dizem, e grita mais alto. Porque eles têm medo de mulheres que batem de volta. Porque eles não aceitam o fato de sermos tão fortes quanto eles – mesmo que não tenhamos o poder que eles possuem.

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Muitas mulheres são contra essa reação e às vezes preferem defender os homens. Isso porque como eu disse antes, fomos programadas a agradá-los. (E dizer aos quatro ventos que você “os odeia”  pode não ser uma boa ideia).

Muitas meninas tem medo das consequências de reagir. (Sempre vemos por aí casos de ameaça de estupro no inbox de feministas).

Eu só quero dizer que, enquanto eu não puder andar sozinha na rua de noite, eu vou odiar os homens.
Enquanto eu não puder usar a roupa que eu quiser, eu vou odiar os homens.
Enquanto eu não puder exercer minha liberdade sexual, eu vou odiar os homens.
Enquanto eu não tiver voz na sociedade, eu vou ter ódio dos homens.
Enquanto eu for assediada na rua, eu vou odiar os homens.
Enquanto milhares de mulheres ainda forem expostas, julgadas, espancadas, estupradas e mortas pelo simples fato de serem mulheres, eu vou odiar os homens.

Mas ninguém é obrigada a odiar homem não, como já disse, é uma consequência.

Eu tenho todo o direito de odiar uma classe que já abusou (sexualmente e psicologicamente) de mim. Eu tenho todo o direito de transformar meu trauma em ódio contra os homens. Eu tenho todo o direito de, ao invés de me deprimir e me culpar, lutar contra os meus agressores.

E experimente me dizer o contrário.

Acredite: Isso tudo dói muito mais nas mulheres do que em vocês, homens.

“Todo esse feminismo polido e sorridente não nos está levando a lugar nenhum” – Julie Bindel

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