Sociologia do câncer

Por Thiago Romero

 

Agência FAPESP – Um estudo feito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontou que características sociais, entre as quais “baixa escolaridade” e “raça e cor”, são fatores importantes associados ao tempo de sobrevida das mulheres após o diagnóstico de câncer de mama.
O trabalho foi publicado nos Cadernos de Saúde Pública após a defesa da dissertação de mestrado de Ione Joyce Ceola Schneider, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFSC.

Orientado pela professora do Departamento de Saúde Pública da UFSC Eleonora d’Orsi, o estudo analisou registros de cerca de mil mulheres com diagnóstico de câncer de mama em dois centros de assistência de alta complexidade em oncologia localizados em Florianópolis.

“Levando em conta todas as variáveis de risco de morte da doença avaliadas na amostra estudada, a escolaridade foi a mais determinante e a única a não ser afetada por nenhum outro fator, como o estadiamento, que é a fase em que a doença é diagnosticada. Verificamos, por exemplo, entre outras pontos, que as mulheres analfabetas tiveram um risco até sete vezes maior de morrer por câncer de mama do que as que tinham nível superior”, disse Ione à Agência FAPESP.

Entre as variáveis analisadas no estudo estão faixa etária, estado civil, escolaridade, raça, diagnóstico e tratamentos anteriores. O tempo de sobrevida foi calculado com base no intervalo entre a data do diagnóstico da doença e a data do óbito ou fim do acompanhamento.
De acordo com outros casos na literatura científica consultados pela pesquisadora, que associam a prevalência da doença a fatores de diagnóstico tardio e precoce, além de experiências colhidas durante a prática médica, ela sugere possíveis causas desse risco maior entre as mulheres de baixa escolaridade.

“Sabemos que as mulheres analfabetas muitas vezes não entendem a importância do diagnóstico precoce e do acompanhamento médico, sendo que muitas delas, além de não terem acesso a serviços de saúde tão eficientes, acabam abandonando o tratamento nas fases mais críticas da doença”, apontou.

A sobrevida estratificada por escolaridade indicou que mulheres com nível superior apresentaram melhor sobrevida (92,2%) nos cinco anos analisados pelo estudo, quando comparadas às mulheres com 2º grau (84%), 1º grau (73,6%) e analfabetas (56%).

A variável “raça e cor” também mostrou-se significativa: a cor branca apresentou melhor sobrevida (76,9%) do que as cores negra, parda, amarela e indígena agrupadas (62,2%). Ainda de acordo com o trabalho, as mulheres que chegaram aos hospitais de referência com diagnóstico e tratamento anteriores tiveram melhor sobrevida do que as demais.

“As pacientes que chegaram aos registros hospitalares de câncer sem diagnóstico e sem tratamento tiveram um risco duas vezes maior de óbito do que as mulheres que tiveram algum diagnóstico ou tratamento realizados antes da consulta”, disse Ione, que faz doutorado na área de saúde coletiva na UFSC e atua no serviço privado de oncologia em Florianópolis.

A idade média das mulheres participantes do estudo foi de 54 anos, apesar de que os principais fatores associados ao maior risco de óbito foram observados em mulheres jovens: após cinco anos do diagnóstico a taxa de sobrevida foi pior entre mulheres com idade inferior a 30 anos (47%).
O risco de óbito foi maior em mulheres jovens, possivelmente devido ao câncer de mama ser mais agressivo e ter pior prognóstico nessa faixa etária. “A faixa etária de 40 a 49 anos teve a melhor taxa de sobrevida, com 82%”, disse.

Segundo a pesquisa, anualmente cerca de 1,1 milhão de mulheres têm diagnóstico de câncer de mama no mundo e, no Brasil, estimativas apontam que ocorrerão cerca de 50 mil casos novos de câncer de mama este ano, com um risco de cerca de 50 casos a cada 100 mil mulheres.
“Uma das principais conclusões do estudo é mostrar a necessidade de conscientização das mulheres sobre a importância do diagnóstico precoce e da busca pelos serviços de saúde periodicamente, e não só quando os sintomas da doença já estão avançados. Infelizmente, muitas mulheres ainda têm morrido por falta de informação”, alertou Ione.

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