Somos programados para acreditar em algum deus?

A religião – a crença em seres sobrenaturais, incluindo deuses e fantasmas, anjos e demônios, almas e espíritos – está presente em todas as culturas e permeia toda a História.

Do BBC

A discussão sobre a vida após a morte remonta a, pelo menos, 50.000 a 100.000 anos atrás.

É difícil obter dados precisos sobre o número de crentes de hoje, mas algumas pesquisas sugerem que até 84% da população do mundo são membros de grupos religiosos ou dizem que a religião é importante em suas vidas.

Vivemos em uma era de um acesso ao conhecimento científico sem precedentes, o que alguns acreditam que é incompatível com a fé religiosa. Então, por que a religião é tão difundida e persistente?

Os psicólogos, filósofos, antropólogos e até mesmo os neurocientistas sugerem possíveis explicações para a nossa disposição natural de acreditar, e para o poderoso papel que a religião parece ter em nossas vidas emocionais e sociais.

Morte, cultura e poder

Mas antes de falar das teorias atuais, é preciso entender como surgiram as religiões e o papel que elas tiveram na vida de nossos ancestrais.

As primeiras atividades religiosas foram em resposta a mudanças corporais, físicas ou materiais no ciclo da vida humana, especialmente a morte.

Os rituais de luto são uma das mais antigas formas de experiência religiosa. Muitos de nossos antepassados não acreditavam que a morte era necessariamente o fim da vida – era apenas uma transição.

Alguns acreditavam que os mortos e outros espíritos podiam ver o que estava acontecendo no mundo e ainda tinham influência sobre os eventos que estão ocorrendo.

E essa é uma noção poderosa. A ideia de que os mortos ou até mesmo os deuses estão com a gente e podem intervir em nossas vidas é reconfortante, mas também nos leva a ter muito cuidado com o que fazemos.

 

Os seres humanos são essencialmente sociais e, portanto, vivem em grupos. E como grupos sociais tendem à hierarquia, a religião não é exceção.

Quando há um sistema hierárquico, há um sistema de poder. E em um grupo social religioso, a hierarquia localiza seu membro mais poderoso: a divindade – Deus.

É para Deus que temos de prestar contas. Hoje em dia, a religião e o poder estão conectados. Estudos recentes mostram que lembrar de Deus nos faz mais obedientes.

Até em sociedades que reprimiram a fé, surgiu algo que tomou seu lugar, como o culto a um líder ou ao Estado.

E quanto menos estável é um país politica ou economicamente, mais provável que as pessoas busquem refúgio na religião. Os grupos religiosos podem, ao menos, oferecer o apoio que o Estado não fornece a quem se sente marginalizado.

Assim, fatores sociais ajudam a desenvolver e fortalecer a fé religiosa, assim como a forma como nos relacionamos com o mundo e com os outros.

Outras mentes

Em todas as culturas, os deuses são, essencialmente, pessoas, mesmo quando têm outras formas.

Hoje, muitos psicólogos pensam que acreditar em deuses é uma extensão do nosso reconhecimento, como animais sociais, da existência de outros. E uma demonstração da nossa tendência de ver o mundo em termos humanos.

Nós projetamos pensamentos e sentimentos humanos em outros animais e objetos, e até mesmo nas forças naturais – e essa tendência é um dos pilares da religião.

Assim argumentou-se que a crença religiosa pode ser baseada em nossos padrões de pensamento e de cultura humana. Alguns cientistas, no entanto, foram além e analisaram nossos cérebros em busca do lendário “ponto Deus”.

Deus no cérebro

Os neurocientistas têm tentado comparar os cérebros dos crentes e ao dos céticos, para ver o que acontece no nosso cérebro quando rezamos ou meditamos. Se conhece pouquíssimo sobre esse campo – mas há algumas pistas, especialmente no que diz respeito às aéreas cerebrais.

O córtex pré-frontal medial está fortemente associado com a nossa capacidade e tendência para entender os pensamentos e sentimentos dos outros. Muitos estudos têm mostrado que esta região do cérebro está especialmente ativa entre os crentes religiosos, especialmente quando estão rezando. Isso corrobora a visão de que a fé religiosa é uma forma de interação social.

Já o lobo parietal, de acordo com estudos pode estar envolvido em experiências religiosas, especialmente aquelas caracterizadas com a dissolução do ego.

Pontuando a vida

Na medida em que estamos constantemente à procura de padrões, estruturas e relações de causa-efeito, a religião pode fornecer uma variedade de estratégias para que essa busca faça sentido

As crenças religiosas ajudam os seres humanos a se organizar e dar sentido a suas vidas. E em todas as culturas, e até mesmo entre ateus, os rituais podem ajudar a pontuar eventos importantes da vida.

Embora nem a neurociência, nem a antropologia e nem filosofia tenham uma resposta definitiva para a questão “Deus existe?”, todas essas disciplinas dão pistas sobre como nós respondemos às nossas mais profundas necessidades humanas.

Talvez não sejamos programados para acreditar em Deus ou em um poder sobrenatural, mas somos animais sociais com uma necessidade evolutiva de ficar conectado com o mundo e com os outros.

De repente, as religiões são apenas canais para permitir essas conexões.

+ sobre o tema

Saiba quem são os 55 vereadores eleitos para a Câmara Municipal de São Paulo em 2024

Os moradores de São Paulo elegeram 55 vereadores neste...

Constituição, 36 anos: defender a democracia

"A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação...

A cidadania vai além das eleições

Cumprido ontem o dever cívico de ir às urnas...

Eleições municipais são alicerce da nossa democracia

Hoje, 155,9 milhões de eleitores estão aptos a comparecer...

para lembrar

Serra cancela viagem a Minas para evitar Lula

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da...

Os atos que desnudam a face sombria da sociedade

A tarefa de escrever nestes dias não anda nada...

Notas de Rodapé – Elas ganham menos

Fernanda Pompeu Várias pesquisas comprovam a realidade: mulheres ganham...

Dilma promete remédio para hipertensão e diabetes de graça

A petista afirmou que a despesa com a cobertura...

Eleição: Capitais nordestinas matam 70% mais jovens que Rio de Janeiro

As capitais nordestinas matam cerca de 70% mais jovens do que a cidade do Rio de Janeiro, que costuma estar nos noticiários com cenas...

Cresce número de empresas sem mulheres e negros em cargos de direção, mostra B3

A presença de mulheres e pessoas negras em cargos de direção em empresas listadas na bolsa brasileira regrediu em 2024, em comparação com o...

Filantropia comunitária e de justiça socioambiental para soluções locais

Nasci em um quintal grande, que até hoje é de terra. Lembro-me de ficar sentada na janela da sala observando a chuva. Nasci em...
-+=