Guerra às drogas na Maré

Discutir políticas públicas e a não proibição de drogas consideradas ilegais no Brasil inclui diretamente o pobre, negro e favelado. Mesmo que seja aquele que não transporta ou comercializa, ou seja, a maioria. Utilizar algo considerado criminoso já marginaliza quem utiliza. E nada se fala sobre álcool, remédios ou cigarro. Que matam milhares de pessoas por dia, e ainda assim sua publicidade e comercialização são valorizadas.

por Thaís Cavalcante da Silva via Guest Post para o Portal Geledés

Grande variedade de drogas pode ser encontrada em uma favela, motivo justificado pelo Estado para a intensa onda de prisões arbitrárias, investimento em forças armadas e a massiva violência contra quem mora em periferias. Quando esse tipo de assunto é uma das vertentes para o extermínio, não é interessante investir em educação, emprego ou saúde para pessoas que têm seu direito violado apenas por morar lá. Isso é insistentemente colocado todos os dias pela mídia comercial e reproduzido por seu público alienado, consequência do poder crescente de manipulação dos meios de comunicação.

Diretamente criminalizada, a droga influencia no cotidiano dos moradores de favela. No Conjunto de Favelas da Maré, localizado no Rio de Janeiro, desde a política de ocupação militar que antecede a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) implantada em 30 de Abril deste ano, as ruas foram tomadas por tanques de guerra e soldados fortemente armados. Essa ocupação que se mostra invasiva e desrespeitosa traz a sensação de falsa paz e segurança, para aqueles que já lidam diariamente com mais três forças armadas: milícia, tráfico e polícia.

Quando a droga é proibida e tratada como caso criminal, o pobre sente na pele por ser negro e é abordado e acusado diariamente, por algo que não é de sua responsabilidade e muito menos resolução. Não é compreensível combater violência com mais violência. Preconceito com mais preconceito.

Infelizmente, o que acontece em torno dessa problemática é mais que repressão. Graças à criminalização das drogas, o direito da vida, da escolha e da paz é retirado. Todos são tratados como criminosos sem chance de defesa. Exterminar aqueles que não são protagonistas principais da riqueza e poder que é o envolvimento com o “crime” só causa mais descaso, revolta e insatisfação.

Como exemplo, podemos observar panfletos distribuídos por militares da Maré: “A força de pacificação está presente para PROTEGER você e sua família”. Típica frase ilusória para aqueles que vivem todo dia a insegurança e abuso de poder dos mesmos. O atual modelo ditatorial e opressor de segurança pública pensado estrategicamente para apresentar um estado seguro e higienizado para a Copa do Mundo e Olimpíadas não favorece nenhum dos 132 mil moradores que moram do Conjunto de Favelas.

Para um livre consumo de substâncias consideradas ilícitas atualmente, a descriminalização deve ocorrer antes da legalização. Já é nítido que a proibição do uso das drogas, que é uma questão milenar, nunca funcionou. E o caminho é a discussão, conscientização e o entendimento de que o ser humano tem livre escolha e que criminalizar o pobre não é solução.

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