Movimento negro cobra auxílio emergencial de R$ 600 e vacina para todos pelo SUS

Nesta quinta feira (18), a Coalizão Negra por Direitos, uma aliança que reúne movimentos negros de todo o país, realizará manifestações em todos os 27 estados brasileiros e no Congresso Nacional.

O motivo da mobilização é a reivindicação de que o governo federal prorrogue a política do auxílio emergencial até o fim da pandemia da Covid-19, com parcelas de ao menos R$ 600. As manifestações trazem também a exigência de que sejam garantidas vacinas de imunização contra Covid-19 para todas e todos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), em resistência à sanha do setor privado em abocanhar vacinas.

Na última semana, a coalizão, em missão da Campanha pela Renda Básica que Queremos, esteve no Congresso, dialogando com deputados e senadores sobre o tema. Em pronunciamento durante ato no Salão Verde da Câmara dos Deputados, convocado pela Frente Parlamentar Mista de Renda Básica, evidenciamos a necessidade da prorrogação do auxílio com um valor digno e pelo tempo necessário à travessia da crise que afeta a vida dos mais pobres no Brasil. Colocamos também a necessidade da criação de uma política robusta de renda básica permanente e do fortalecimento do Bolsa Família.

A comitiva foi recebida pelo vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM) e pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Ambos apresentaram, como é de conhecimento público, compromisso em aprovar algum auxílio emergencial. No entanto, as justificativas econômicas e a pretensa preocupação com as contas públicas seriam impedimento para o aumento nos valores.

O governo Bolsonaro defende um auxílio com três parcelas de R$ 200. O Congresso trabalha com a hipótese de quatro parcelas de R$ 250. Qualquer um desses valores, nós sabemos, não são suficientes para alimentar uma família de quatro pessoas sequer por dez dias.

Milhares de mortos de um lado e milhões de famintos de outro. Cerca de 240 mil vidas perdidas, grande parte em decorrência da postura negacionista do governo federal. Aproximadamente 63 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, (com renda mensal de até R$ 178 por pessoa) e outros 27 milhões abaixo da linha da pobreza extrema (até R$ 89 mensal por pessoa).

É a consolidação de um cenário de guerra. Estado de guerra, calamidade pública, crise humanitária, genocídio! Ou nos negaremos a tratar o que estamos vivendo com a gravidade que realmente tem? Se os governos, o Parlamento, as instituições da República não servirem para socorrer imediatamente a ampla parcela da população que sofre com a fome e com a morte, para que servem? Qual sua função e responsabilidade? O poder aos políticos, delegado pelo povo, é para cuidar e fomentar a vida, e não para impor o sofrimento e o terror.

A pandemia aprofundou desigualdades sociais e econômicas no país. O simplismo do debate que contrapõe preocupação com a economia versus emergências da situação social não nos ajuda. O Brasil é um país rico, mas com um povo levado a conviver com a pobreza, doenças e fome todos os dias. Sua economia e seu orçamento são públicos e devem estar a serviço do país e de seu povo, e não dos interesses privados, como percebemos.

Em todo o país, as bandeiras, faixas, cartazes e petições do movimento negro exigindo auxílio emergencial de R$ 600 por mês até o fim da pandemia e vacina para todas e todos pelo SUS representarão o clamor, o grito de socorro —e também de revolta— do nosso povo mais sofrido. “Enquanto houver racismo, não haverá democracia!” Aos governantes e à sociedade caberá decidir o que fazer, sob pena de serem julgados pela história.

 

Douglas Belchior

Coordenador da Uneafro Brasil

Ieda Leal

Coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado

Selma Dealdina

Secretária-executiva da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas)

Wania Sant’Anna

Ilê Omolu Oxum e conselheira do iBase

Wesley Teixeira

Integrante do PerifaConnection e da Frente de Evangélicos pelo Estado Democrático de Direito

PerifaConnection

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento

+ sobre o tema

Mendes, Veja e o conluio dos desesperados

Veja perdeu sua principal fonte oficial – Demóstenes...

O cara é cidadão

Por: SÉRGIO RENAULT   A não ser o impedimento...

Festival Latinidades ganha edição especial no Mês da Consciência Negra

Maior festival de mulheres negras da América Latina segue...

Fim de uma era, uma nova civilização ou o fim do mundo?

Há vozes de personalidades de grande respeito que advertem...

para lembrar

Encontro do MN com Dilma, Marcos Rezende é entrevistado por Paulo Amorim

por paulo amorim Na última sexta-feira (19), a presidenta Dilma...

A propósito de uma velha carta de Luíza Bairros

Acredito que a morte de Luíza Bairros nunca será...

Dos clubes sociais à militância: a história do Movimento Negro em SC

O trabalho do movimento negro resgata a participação dessa...

COP26: Movimento negro brasileiro denuncia racismo ambiental

Começo dizendo, para demarcar (demarcar e titular é coisa...
spot_imgspot_img

Campanha por ministra negra no STF é exibida na Times Square

Esta semana, a campanha #PretaMinistra, movida pelo Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) junto com a Coalizão Negra por Direitos, ganhou visibilidade internacional...

Entidades da luta por direitos da população negra lançam campanha que pede vaga à ministra negra no STF na Times Square, em Nova York

O Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) e a Coalizão Negra por Direitos lançaram a campanha "#PretaMinistra", com o objetivo de gerar impacto...

Manifesto – Pelo fim da violência policial e de Estado, nossas crianças e o povo negro querem viver! Chega de Chacinas!

Hoje, dia 24 de Agosto, é a data escolhida por organizações negras de todo o país para dizer: PAREM DE NOS MATAR! Nessa mesma...
-+=