Sonia Guimarães é a primeira mulher negra a receber Troféu Guerreiro da Educação

Prêmio também foi concedido ao cirurgião Raul Cutait, de 71 anos, professor de medicina da USP em 2020

FONTEDom Total
Prêmio concedido foi o de Professor Emérito - Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita (Foto: Arquivo pessoal)

Primeira mulher negra a receber o Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita, a física Sonia Guimarães, de 64 anos, professora do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), disse nessa quarta-feira (10) em São Paulo que há uma mudança no cenário da participação feminina na ciência brasileira. “O vestibular deste ano no ITA aprovou o ingresso de 17 meninas. No ano passado, foram quatro. É o recorde dos recordes”, alertou a cientista do ITA, de São José dos Campos, antes de receber o Troféu, edição 2021, criado em 1993 pelo Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE.

O Prêmio foi concedido também ao cirurgião Raul Cutait, de 71 anos, professor de medicina da USP, em 2020. Adiado pela pandemia, ele foi entregue nesta quarta-feira pelo diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, patrocinador do Prêmio, e pelo presidente do Conselho de Administração do CIEE São Paulo, José Augusto Minarelli.

A abertura do evento foi feita pelo CEO do CIEE, Humberto Casagrande. O CIEE atende 220 mil jovens em programas de formação profissional e tem uma fila de 1,7 milhão à espera de vagas no país. O indicado para o prêmio de Professor Emérito sai de uma lista anual de 40 nomes.

A física Sonia Guimarães agradeceu a premiação, destacando que é apenas a quarta mulher indicada em 23 anos. Os demais premiados foram todos homens. “Vocês têm de pensar em colorir mais a premiação nos próximos anos”, disse a professora, dirigindo-se à organização. “E também não tem nenhum homem negro”, emendou, sob aplausos.

MACHISMO E RACISMO

“Estou lisonjeada por ser a primeira mulher negra a receber esse prêmio”, declarou a física do ITA, que lembrou o que chamou de “machismo e racismo” contra seu desejo de ensinar.

Ela recordou episódios ocorridos durante sua formação. “Uma mulher racista me disse: ‘Você nunca vai aprender Física’. Outra que nem me permitiu me inscrever para uma bolsa de iniciação científica, disse: ‘Você nunca vai usar Física para nada. Por que vou desperdiçar uma bolsa dessas com você?’. O machismo e o racismo me expulsaram do cargo de professora, com doutorado na Inglaterra, pelo seguinte motivo: ‘Você não sabe ensinar Física e a tua roupa chama a atenção para o teu corpo’”, acrescentou ela, que foi expulsa para um instituto no qual não daria aulas, só faria pesquisas.

“Querem saber o resultado das pesquisas? Criei uma técnica para produzir sensores de radiação infravermelha que vão na cabeça do míssil e permitem a ele ver o avião perseguido. Inventei a técnica e consegui a patente.” E concluiu: “O que eu mais queria era ver essa gente toda, que dizia que eu nunca iria aprender nem usar Física para nada, agora me ver recebendo o Prêmio de Professora Emérita – Troféu Guerreira da Educação.”

EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO

Segundo Francisco Mesquita, o Prêmio indica a relevância da educação e a importância do compartilhamento do aprendizado pelos alunos. “Nunca foi tão importante que educação e informação andem de mãos dadas no País”, afirmou. “Num mundo hiperconectado, a sociedade recebe informação o tempo todo. Quanto melhor informados, melhor decidimos”, disse. “Ao mesmo tempo, há campo fértil para a desinformação, tentativa de manipulação das pessoas por notícias falsas ou distorcidas.”

Para ele, “o remédio está na fonte de informação de credibilidade, papel que nós do Estadão temos feito há 146 anos, na defesa dos valores da democracia e da livre iniciativa, que coincidem com os valores do CIEE. E na educação; uma sociedade educada para saber interpretar corretamente os fatos e decidir o futuro”.

No discurso, Cutait lembrou que iniciou a carreira lecionando Física em cursinho. Acumulando dezenas de especializações médicas, dentro e fora do Brasil, o cirurgião criticou a expansão dos cursos de Medicina no País. Segundo ele, o Brasil subiu de 200 faculdades para cerca de 350. “O Brasil não precisa de tantos médicos. Nem tem docentes preparados para ensinar em tantas faculdades. Estamos falando da formação de incompetentes.” Para ele, é preciso aprimorar avaliações de desempenho e criar critérios de qualidade no ensino da Medicina.

Agência Estado

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