Suicídio tem cara, cor e história, e se alia à matança do povo negro

Na segunda-feira, dia 21, foi o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa e me pus a pensar na questão racial como um todo. Lembrei dos avanços e retrocessos dessa luta, cansativa por não ter fim e satisfatória pelas conquistas que o povo negro alcançou durante toda a vida. Embora constantemente ameaçadas.

Por Érico Brás Do Correio24horas

Érico Brás (Foto: Divulgação/Correio24horas)

O racismo à brasileira é um dos piores do mundo porque possui características partículares com alto grau de perversidade e com requintes de crueldade, objetivando a desumanização do povo negro. Essas características tão presentes em nossa sociedade eurocêntrica, em plena América Latina, com negros e índios participando majoritariamente da construção dos países latinos, tem vingado a ideia de que no Brasil é um paraíso.

E o que sabemos, de fato, é o contrário. Isso está provado através do números avassaladores de extermínio da comunidade negra. Números que fazem parte de um plano de genocídio cujo processo de fabricação da morte negra, branqueamento ou limpeza étnica, como você queira encarar, está em andamento desde 1888.

Antes disso não era lucro matar a mão de obra escrava negra, acabar com o mercado de escravos ou até mesmo impedir que esse comércio ilegal, já erradicado em outros países, acabasse por aqui.

O processo de fabricação da morte da população negra tem em seu cerne uma estrutura sólida garantida pelo estado brasileiro que ousa continuar ignorando os avanços conquistados pela negritude, patrocinando o genocídio escancarado e sem vergonha.

A saber, nós já avançamos para um abismo genocida que até então não se falava, por conta de uma pesquisa dos EUA nos anos 80 que sugeria que não tocássemos no assunto do suicídio de jovens. Não se tocava no assunto abertamente nos meios de comunicação porque era constatado que os suicidas cometiam o ato por imitação também. Mas o que isso tem a ver conosco? Vou te dizer.

A juventude negra é quem mais comete suicídio no Brasil entre os jovens de 10 a 29 anos. O Ministério da Saúde e a Universidade de Brasília fizeram em conjunto um levantamento que nos mostra quanto o racismo pode acabar com o nosso futuro. Segundo os estudos, a cada dez jovens que se suicidaram em 2016, seis eram negros e o motivo, segundo o levantamento, está ligado a questões raciais. Portanto, não seria necessário explicar mais uma vez que o racismo mata, mas eu insisto.

Essa morte física através do suicídio se alia às matanças praticadas em confrontos com a polícia ou entre disputa de facções nas comunidades e favelas, violência doméstica contra mulheres negras, reações a assaltos, uso do álcool e outras drogas, acidentes  de carro, e por aí vai… Um abismo, como havia dito antes. Um buraco NEGRO.

Mas, também existe a morte simbólica que persiste e talvez seja uma das mais difíceis de combater porque ela é multifacetada.

A ausência do negros nos espaços públicos e privados é cada vez maior. Ao jovem negro brasileiro resta um legado do período escravocrata brasileiro que deixa como legado a rua, a bebida, a fome, a cadeia, a subserviência e transforma o que chamaríamos de produto cultural em vagabundagem, o que poderia equilibrar a convivência em comunidade e a relação com o sagrado em demoníaco. Ou seja, simbolicamente, não estamos, não somos e não podemos absolutamente nada. Nem quero falar do capitalismo selvagem à moda brasileira e fanático pelo capitalismo americano, nos deixando como babacas correndo atrás da riqueza e modus operandi da prosperidade alheia, sem perceber que eles tentam nos comprar há tempos. O que significa que temos mais e temos algo muito valioso que eles já não possuem. Mas isso é outro assunto que falarei no futuro. Não deixa de ter ligação.

A construção do imaginário popular brasileiro quando se trata do povo negro é a mais eurocêntrica possível. Como assim?  Basta olhar os efeitos das propagandas e produtos com a imagética que visa apagar as características negras do mercado, confundindo os homens e mulheres negras em relação a sua beleza, inteligência e formando um verdadeiro curral do consumo que obedece a um repertório de códigos  culturais de consumo estabelecidos nas empresas e disseminados nas comunidade periféricas do Brasil onde os negros são historicamente a maioria.

Enfim, o Brasil para ser bom para os negros e negras, tem que fazer outro… Sob o comando da negritude. Porque esse já era.

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