Sul-Africano Neo Muyanga e Coletivo Legítima Defesa abrem a 34ª Bienal de São Paulo

A 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto, abre no sábado, 8 de fevereiro, a partir das 9 horas, a primeira da série de três exposições individuais que introduzem parte dos temas que serão tratados retomados pela mostra principal, em setembro deste ano. A mostra monográfica de Ximena Garrido-Lecca (n. 1980, Lima, Peru) inaugura a série com 9 obras, entre instalações, fotografias e vídeos, que estarão expostas no 3º pavimento do Pavilhão da Bienal até 15 de março. Trata-se da primeira exposição individual no Brasil da artista, que trabalha entre Lima e Cidade do México e pesquisa a história do Peru e os impactos dos processos coloniais e suas consequências contemporâneas. No mesmo dia, às 11 horas, o sul-africano Neo Muyanga (n. 1974, Soweto) apresenta a performance musical inédita A maze in grace, que vai se espalhar por diversos pisos do Pavilhão, ao redor de seu icônico vão central. À ocasião, um coro de 40 vozes vai ocupar os três andares do Pavilhão da Bienal, ao redor de seu vão central, cantando uma nova composição para a melodia da conhecida Amazing Grace [Graça sublime], frequentemente apresentada como um hino de rituais de luto público em diferentes partes da África, e que possui conotação política religiosa para a comunidade afro-americana nos EUA. O trabalho de Muyanga propõe a desconstrução e um novo olhar sobre a canção, composta, em 1772, por John Newton, um traficante de escravos britânico branco que se converteu e tornou-se um pastor anglicano abolicionista no final do século XVIII após uma série de experiências de quase morte. O coletivo teatral paulistano Legítima Defesa, que realiza ações poético-políticas de reflexão e representação da negritude, também participa da performance, assim como a artista Bianca Turner (n. 1984, São Paulo, Brasil), que assina o videomapping utilizado na obra.

Por Marina Franco enviado para o Portal Geledés

Neo Muyanga (Foto: Natália Sena)

Para além de sua realização no dia 8, que dá início ao programa da 34a Bienal de São Paulo, a nova obra de Muyanga se desdobra em outros dois momentos: a performance que, em julho, abrirá a 11a Bienal de Liverpool, instituição parceira na realização deste trabalho; e a instalação audiovisual que integrará a mostra coletiva da 34ª Bienal, em setembro. Composta a partir de seu país, a África do Sul, e com realizações no Brasil e Inglaterra, essa obra religa os vértices do chamado “triângulo do Atlântico”. Segundo Paulo Miyada, curador adjunto da mostra, “é difícil imaginar uma forma mais propícia de abrir a programação de uma Bienal intitulada ‘Faz escuro mas eu canto’, pois Neo Muyanga relembra o quanto uma canção de esperança está marcada pela violência e pela crueldade e, então, reencanta sua sonoridade com elementos musicais e discursivos da história dos homens e mulheres negros brasileiros e africanos – justamente aqueles que protagonizaram e protagonizam a luta pela emancipação racial que dá sentido a essa canção”.


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