Dennis de Oliveira
No dia 11 de setembro, o Coletivo Quilombação realizou uma roda de conversa para discutir a questão do racismo e do poder, aproveitando o clima eleitoral. Por decisão dos seus membros e em função de que na sua carta de princípios, o coletivo define-se como uma entidade suprapartidária, a entidade não apóia nenhum candidato oficialmente, embora os seus ativistas possam manifestar o seu apoio individual a qualquer candidatura.
Entretanto, apesar desta posição, os ativistas do Quilombação consideram que é importante discutir a relação do negro e negra com a política, transcendendo a disputa eleitoral. A coordenação do coletivo produziu, então, um documento intitulado “Negros e negras construindo o poder popular” no qual aponta que o racismo é uma componente estrutural da sociedade brasileira, junto com a concentração de renda e a violência como prática política e que é necessário profundas transformações na sociedade para a sua superação.
A apresentação do projeto contou com a presença do senador Eduardo Suplicy (PT) que distribuiu uma cartilha sobre o programa da renda cidadã, de sua autoria, e presenteou a coordenação do Quilombação com um livro de sua autoria. Suplicy defendeu a luta pela plena equidade social por parte dos parlamentares eleitos com apoio do movimento popular. Também esteve presente no encontro o ator Sérgio Mamberti, que é um dos responsáveis pela elaboração do programa cultural do candidato Alexandre Padilha (PT) ao governo do estado de São Paulo. Mamberti lembrou da importância da cultura popular e da cultura negra para a construção de novos referenciais de valores na sociedade brasileira.
Vários candidatos negros a parlamentares estiveram presentes e deram o seu recado. Douglas Belchior, candidato a deputado federal pelo PSOL, afirmou a necessidade de se lutar por mudanças estruturais na sociedade para a superação do racismo, concordando com o documento elaborado pelo Quilombação. Marco Antonio Zito, candidato a deputado estadual pelo PTB defendeu a necessidade de se fortalecer os projetos elaborados pela comunidade negra, principalmente os de autofortalecimento social e econômico e considera a educação um espaço importante para isto. Juninho, candidato a deputado estadual pelo PSOL, afirmou a necessidade da população negra intervir neste processo eleitoral marcado, segundo ele, por um recrudescimento conservador manifestado, entre outras coisas, pela bandeira da redução da maioridade penal para 16 anos que se transformou num dos principais pontos da campanha estadual. Também esteve presente a candidata a deputada estadual pelo PC do B, Flávia Costa, que, por ter outros compromissos da campanha, não pode ficar até o final, mas saudou a iniciativa.
A questão da redução da maioridade penal foi um tema destacado no debate. O candidato Marco Antonio Zito disse que, apesar do seu partido defender esta bandeira, é radicalmente contra pois a sua experiência de ter trabalhado no sistema penitenciário o fez ter convicção de que “a cadeia não recupera ninguém”. Juninho disse que é necessário que este debate ganhe corpo, pois nas suas atividades de campanha tem percebido que mesmo jovens da periferia tem defendido esta bandeira. O senador Eduardo Suplicy diz que uma das dificuldades de crescimento na sua campanha é justamente este ponto, pois ele é radicalmente contrário a redução da maioridade.
A grande experiência desta reunião foi a realização de um espaço de discussão política aberto, suprapartidário, em que todos puderam se manifestar e, coletivamente, construir idéias e pensamentos. O Coletivo Quilombação tem aumentado sua visibilidade nas redes sociais e se constituindo em uma plataforma de compartilhamento de idéias, tanto no espaço virtual, como no presencial por meio das rodas de conversa. Apesar do recrudescimento da direita, há resistências e esperanças de construir algo novo.
Fonte: Revista Fórum