Dilma comenta choro de Marina: ‘Quem não quer ser criticado não pode ser presidente’

Tatiana Farah

BELO HORIZONTE. Candidata à reeleição pelo PT, a presidente Dilma Rousseff voltou a criticar sua principal adversária, Marina Silva (PSB), ao dizer que um presidente da República tem de resistir à pressão. Em discurso dirigido a movimentos negros em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, Dilma afirmou que quem não quer ser criticado “não pode ser presidente”. Mais tarde, ao responder a jornalistas sobre a adversária ter chorado com os ataques petistas, a presidente disse que não é contra o choro.

— Um presidente da República sofre pressão 24 horas por dia. Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República — disse Dilma, a uma plateia que gritava em diversos momentos “não vai ter Marina”.

Em entrevista coletiva, a presidente disse que, embora não seja contra o choro, um presidente deve “aguentar a barra”. Quando era ministra da Casa Civil e candidata a presidente, em 2010, Dilma lembrou que rebatia as críticas de ser uma pessoa dura respondendo “sou uma mulher dura cercada de homens meigos”.

— Acho que, (para) ser presidente, a gente tem que aguentar a barra — disse Dilma, que completou: — Não sou sou contra as pessoas chorarem, não. Chorar é intrínseco ao ser humano, é o que nos distingue. Mas eu acho que o mais característico nosso, graças a Deus, é que o homem é um bicho que ri, ri até de si mesmo.

Tanto no discurso como na coletiva à imprensa, Dilma defendeu a política de cotas e a lei que visa regulamentar o uso de autos de resistência por parte da polícia.

— Eu apoio a lei contra os autos de resistência, a lei de que tem de acabar com os autos de resistência, a alegação de que foi morto porque resistiu. Ele foi morto porque foi morto e é uma violência insuportável, indesejável, e não podemos concordar.

Sem comentar que Marina Silva é uma candidata negra, Dilma disse acreditar que o país “ainda vai ter um presidente negro ou uma presidenta (negra)”, mas disse que as mulheres demoraram a ocupar o posto mais alto do Brasil.

— Meninas, nós levamos também muito tempo para chegar ate aqui.

Dilma, que foi recebida na praça da cidade por festividades afro-brasileiras e ganhou um colar africano, também falou sobre direitos dos homossexuais. Defendeu a criminalização da homofobia como forma de evitar a “perda de valores civilizatórios”.

Durante o discurso, uma jovem chegou a brincar pedindo a presidente em casamento. Ao microfone, Dilma brincou.

— Não posso casar ainda, sou menor de idade — disse à jovem e dirigiu-se ao público: — Me pediram em casamento e eu não posso deixar de me manifestar. Não posso, mas, olha, fico muito honrada com o convite.

A presidente alfinetou Marina mais uma vez ao dizer que, como presidente, “não dá para a gente vacilar diante de twitter”. Era uma referência à pressão feita pelo pastor Silas Malafaia sobre Marina, que recuou em seu programa de governo no tema sobre direitos dos homossexuais.

E se Marina reclama de “mentiras” sobre sua candidatura, a petista pediu empenho dos eleitores no mesmo tema:

— Esta é uma eleição muito dura. Tem gente com muito ódio, tem gente que usa a desinformação, que usa a mentira. Nós temos de ser calmos. Temos de responder ao ódio com a esperança. E temos de responder à mentira com a verdade, e a verdade é que esse pais mudou, que as pessoas agora tem emprego, estão ganhando salário.

Ao final do discurso, nova crítica velada ao PSB, que defendeu em seu programa a autonomia do Banco Central, o que tem sido diariamente criticado pelo PT.

— Se querem tirar o pobre do Orçamento e colocar os bancos, nós não queremos e não deixaremos — disse a presidente.

“Não fui eleita para arrochar salários”, afirma Dilma

À noite, em comício para jovens em Minas Gerais, a presidente que “não foi eleita para arrochar salários” e prometeu tratar da reforma política depois das eleições. No dia em que completa um mês da morte do ex-governador Eduardo Campos, que dizia que não se devia desistir do Brasil, a presidente modificou o bordão:

— Nem na tortura eu desisti deste país, quanto mais na democracia —disse a presidente.

Em seu discurso, o segundo do dia na região de Belo Horizonte, a presidente falou que “estes dias” fora questionada sobre qual seria a sua política econômica em um eventual segundo mandato.

— No primeiro mandato, eu não fui eleita para desempregar ninguém, não fui eleita para fazer arrocho salarial e não farei — disse ela.

Ao lado do candidato do PT ao governo mineiro, o ex-ministro Fernando Pimentel, com quem militou contra a ditadura, Dilma fez nova provocação à candidata Marina Silva, do PSB. Disse que, para mudar o país, era preciso ter um time e parceiros.

— E parceiras são aquelas pessoas que não arregalam, não mudam de opinião, né Pimentel, que não pensam em uma coisa de manhã e outra de tarde.

Depois da frase, os militantes começaram a cantar “oô, Marina é caô”, criticando a candidata socialista.

Ao falar sobre a destinação dos royalties do pré-sal para a educação, Dilma disse que, “quando a gente sabe que conquistou, a gente tem obrigação de defender”. A presidente defendeu a participação popular, por referendo ou plebiscito, para realizar a reforma política.

— Logo após as eleições, nós temos de tratar dessa questão, da reforma política — disse Dilma.

Segundo a presidente, “um dos problemas que o Brasil enfrenta é o de valores, daquilo que a gente considera que não podemos abrir mão”.

— Direitos humanos é um valor. Não podemos permitir e temos de criminalizar a violência contra o jovem negro, contra a mulher e a violência por orientação sexual, chamado homofobia — disse Dilma, que completou:

— O Estado brasileiro é laico e também não permite que se persigam religiões.

Em uma semana em que a Petrobras e a gestão petista são focos de denúncia de corrupção, Dilma tentou dar argumentos para que a militância defenda o partido e o governo.

— Nunca no Brasil, um governo investigou tanto quanto o meu governo e o do presidente Lula. Nós investigamos doa a quem doer. Nós acabamos com o engavetador geral da República — disse ela, mais uma vez em provocação procurador geral da República do governo Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Brindeiro.

 

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Fonte: Extra 

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