‘Tambores são linguagens’: professor e músico, Tiganá Santana lança ‘Iroko’

Em seu último disco (‘Iroko’, lançado em janeiro de 2023), Tiganá Santana apresenta “Bloco Novo”, fruto da parceria com o pianista e compositor cubano Omar Sosa.

Nesta canção, o cantor, compositor, pesquisador, violonista e poeta brasileiro, Tiganá Santana, resgata que ‘afoxé vai traçar um destino altivo pra minha gente morar’.

A canção e clipe, lançados meses antes do disco, retratam as conexões entre artistas afro-latinos e as tradições espirituais afrodiaspóricas.

Na história fonográfica do país, Tiganá Santana é o primeiro compositor brasileiro a apresentar um álbum com a presença de canções escritas, integralmente, em línguas africanas. Baiano de Salvador, em entrevista a Ecoa, Tiganá fala sobre ancestralidade, musicalidade de uma Bahia negra e racismo.

Ecoa – O que define a “música negra baiana” e como estas manifestações musicais atravessam (ou não) a sua identidade sonora?

Tiganá Santana – A princípio e holisticamente, eu chamaria de “música negra baiana” o conjunto de manifestações culturais afrodiaspóricas da Bahia que têm na música um dos seus grandes eixos de cosmovisão, expressão e epistemologia.

Assim, a música de Candomblé, o que se conhece, genericamente, como samba de roda, a música de capoeira, a música dos afoxés e dos blocos afros, todas essas manifestações, entre outras, perfilam a música de uma Bahia negra.

Sem qualquer dúvida, a música de que sou veículo vem, em larga medida, desses vetores negros de força mencionados e deve a eles a sua eventual expansão.

O tambor seria então um dos “elos” ancestrais que mais conecta as diversas sonoridades negras produzidas na Bahia?

Certamente. Tambores são linguagens, cifras e espaços estéticos de temporalidades. É importante atentarmos à diversidade de possibilidades de expressão advinda do tambor, bem como à pletora de instrumentos musicais presentes no continente africano muito distintos do tambor.

É, igualmente, importante atentarmos à relevância das vozes para as sonoridades negras produzidas na Bahia e que compreendamos o tambor como voz ao lado das vozes humanas, como enunciador de narrativas, como entidade de fala, força oracular, como criador de textualidades. O tambor, em geral, conecta-nos ao ritmo – manifestação fundamental para as nossas ressonâncias negras, para a compreensão de uma música afro-baiana, e, em última análise, de um modo de existir.

Compus uma canção em língua kikongo que se chama “Congo Angola Bahia” e gravei-a no meu álbum “Tempo & Magma”, de 2015. Essa canção versa sobre a existência, na Bahia, das diversas ramificações do tronco do Candomblé conhecido, em termos gerais, como de linhagem Congo-Angola, por meio do tambor (ngoma). Trata-se do tambor enquanto construtor e comunicador de identidades e linguagens de espiritualidade negra na diáspora – notadamente, numa diáspora baiana.

Você é reconhecido, dentre outras coisas, por conta de uma sonoridade afro-brasileira caracterizada de múltiplas formas. No entanto, presumo que poucas pessoas sabem o quão diverso é o seu trabalho. Faz sentido para você esta colocação? Se sim, você avalia que estas questões estão entrelaçadas aos muitos diálogos ausentes sobre a participação do negro na música no mundo?

Pode ser.

O racismo habita as mais diversas estruturas de lugares que se relacionaram e relacionam com a ideologia colonial; sistemicamente. É complexo esse cenário de sociedade(s). Procuro construir uma obra baseada na diversidade da, ainda mais complexa, experiência de viver, nas suas poéticas.

Os referenciais negros estão nessa construção, bem como outros referenciais, tudo o que vivi e o que ainda não vivi. Inventar é esse inigualável espaço de liberdade, e claro que, necessariamente, passa pelo histórico de quem inventa e interpreta.

Em que pese experienciar esse espaço de liberdade, sou um artista negro, e, na perspectiva dos alicerces sociais racistas, talvez, esteja reservado a mim e a outros artistas negros e negras um tipo, um limite de feito criativo com um perfil unívoco, simplório.

Há um longo caminho à frente.

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