Ministra da Justiça francesa critica falta de uma posição oficial firme contra insultos racistas e alerta para o facto de a sociedade francesa estar a derivar para o racismo.
Por: Luís Manuel Cabral
A ministra francesa da Justiça, Christiane Taubira, lançou esta quarta-feira o seu próprio “Eu Acuso” numa entrevista ao jornal Libération. Depois de ter sido comparada a um símio na página do Facebook de uma candidata da Frente Nacional, logo afastada do partido, e de ser chamada de gorila e macaco por alguns jovens que se manifestavam contra o casamento de homossexuais em Angers, Taubira afirmou que “esses ataques racistas são uma ataque ao coração da República”, adiantando que esses mesmos ataques colocam em perigo a coesão social, mostrando a sua surpresa por “ninguém ter elevado a sua voz com firmeza suficiente para alertar contra esta perigosa derivação da sociedade francesa”.
Nascida em Cayena, na Guiana francesa, Taubira pergunta se “uma sociedade onde os seus alicerces estão a abanar” será capaz de ter uma reação, afirmando que a resposta aos insultos e ao racismo da extrema direita “não tem estado à altura” do que era exigível. “As consciências da sociedade francesa poderiam ter dito: cuidado, isto não é superficial, é um alarme. É a coseão social que está em jogo, a história de um país que fica em causa”, disse.
Segundo o jornal espanhol “El País”, para Taubira, “as inibições estão a desaparecer e os diques a ceder”, adiantando que “faz falta recordar que o racismo não é uma opinião, é um delito. A resposta judicial é indispensável, mas não basta. Não podemos pedir à justiça que cure sozinha as patologias mais profundas que minam a democracia. Eu estou acostumada aos insultos, mas milhões de pessoas ficam em causa quando me chamam macaco. Milhões de jovens que nos pátios dos recreios das suas escolas ficam a saber que os podem chamar impunemente de macacos”, disse.
A ministra da Justiça critica ainda o clima criado nos últimos anos no país, onde os imigrantes, e sobretudo os ciganos, estão a ser considerados inimigos, e onde se passa o tempo a afirmar que o povo francês está acossado e em perigo. “Mas que perigo?”, pergunta, “o que é preciso são boas políticas de integração. Basta de meter medo às pessoas e de manipular a opinião pública!”.
Fonte: DN