Terreiros de umbanda localizados em Teresina estão sofrendo uma série de ataques. Nos últimos 30 dias, quatro casas foram alvos de vandalismo e de injúria e difamação. O episódio mais recente aconteceu na madrugada de sexta-feira (7) no bairro São Pedro, zona Sul da capital.
Por Monica Aguiar Do Mulher Negra
O terreiro de Santa Luzia Oxu
m de Apará teve imagens da família de Léguas da religião quebradas. “Uma pessoa passou do lado de fora do terreiro, colocou uma ripa de madeira na grade da janela do terreiro e quebrou, pelo menos, 5 imagens. Acordamos com o barulho e, quando fomos ver, a pessoa já tinha fugido”, conta o pai de santo da casa, Pai Eudes de Oxum Apará.
Esta foi a segunda vez, só nesta semana, que o terreiro de Santa Luzia Oxum foi alvo de vandalismo. Na madrugada de terça-feira (4) uma pessoa teria tentado provocar um incêndio na casa religiosa. O fogo atingiu as cortinas do contro religioso e foi controlado rapidamente.
“Um vizinho acordou gritando, já tinha uma labareda enorme e joguei água. Se o vizinho não tivesse visto, a casa inteira tinha queimado”, relata o pai Eudes. Os dois casos foram denunciados no 3º Distrito Policial.
O pai de santo acredita que os atos de vandalismo foram provocados pela intolerância religiosa. “São pessoas que possuem raiva da religião”, acredita. Os outros casos de ataques a terreiros aconteceram em um terreiro localizado na zona Sudeste, da Mãe Ester de Iansã.
Lá, foram quebradas imagens de divindades, uma porta de vidro e também foi violado um espaço chamado de ‘quarto sagrado’, usado para práticas religiosas.
O pai Tony de Iemanjá, de um terreiro da zona Sudeste, foi vítima de injúria e difamação nos últimos dias, tendo imagens suas divulgadas em redes sociais, onde foi acusado de ser “matador de crianças”.
Os casos são citados ao Cidadeverde.com pelo Vice- Coordenador Nacional do CENARAB – Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileira – Pai Rondinele de Oxum. Ele reforça que os episódios são de intolerância religiosa.
“Isto é muito grave. Nos últimos cinco anos esses ataques eram raros de acontecer. Agora, em 1 mês, foram quatro casas atacadas”, ressalta o pai de santo.
Por conta dos episódios, os terreiros de Umbanda localizados em Teresina estão se organizando para lançarem, em agosto, uma campanha de combate à intolerância religiosa. A mobilização será feita através de outdoors, espalhados em pontos estratégicos da capital. O grupo está arrecadando fundos para confeccionar os materias de divulgação e ajudas financeiras podem ser depositadas na conta do Banco do Brasil Agencia: 4249-8 Conta Corrente: 11296-8.
O pai Rondinele destaca que o Brasil é um país culturalmente diverso e que o Estado precisa estar presente para garantir o respeito a essa diversidade, sobretudo, no que tange às religiões de matriz africana.
“A nossa Constituição prevê o respeito às diversidades, somos um País plural, com muitas demandas. Nesse contexto, é fundamental o respeito às religiosidades, aos cultos de matrizes africanas, que têm um histórico de muita perseguição. Precisamos trazer a tolerância e a respeitabilidade para dentro da sociedade e permitir que cada um tenha sua fé. Não queremos que nos aceitem e, sim, que nos respeitem”, declara o pai de Santo.
Em 2013 foi realizado mapeamento das casas de umbanda e candomblé de Teresina, registrando mais de 480 terreiros somente na capital. O levantamento fez parte das políticas públicas da rede matrizes africanas.