A ministra das Comunicações do Haiti, Marie-Laurence Lassegue, disse neste domingo que o governo local “nunca interrempeu” as buscas por sobreviventes e que “não entende” por que as Nações Unidas divulgaram essa informação.
“Eu nem conheço o funcionário da ONU que deu essa informação”, disse a ministra, em entrevista à BBC Brasil.
No sábado, a porta-voz da ONU para questões humanitárias, Elizabeth Byrs, disse que as buscas por pessoas com vida nos escombros estavam oficialmente suspensas.
“Não entendo isso. Desde o primeiro dia após o terremoto estou aqui, das 8h às 21h, para informar a população e os jornalistas. Hoje é domingo e estou aqui?” disse a ministra.
Como o prédio onde funcionava o ministério foi destruído com o terremoto, Lassegue e seus funcionários estão trabalhando em um “gabinente” improvisado debaixo de uma árvore, no quintal da Delegacia Central de Polícia, em Porto Príncipe.
A ministra disse também que o número de mortos já está entre 120 e 150 mil, mas que deverá subir.
Aos 55 anos, casada e mãe de 22 filhos (sendo 20 adotivos), Lassegue disse que “não pode desistir” do cargo diante do desafio de reconstruir o país. “Tenho que lutar e ganhar.”
A seguir, a íntegra da entrevista.
BBC Brasil – As Nações Unidas têm divulgado informações oficiais sobre o terremoto, em nome do governo haitiano. Vocês estão trabalhando de forma conjunta nessa divulgação?
Lassegue – Não e eu não entendo isso. Desde o primeiro dia após o terremoto eu estou aqui, das 8h às 21h, para informar a população e os jornalistas. Hoje é domingo e estou aqui. Se as pessoas querem se informar, são todos bem-vindos.
BBC Brasil – De onde, então, a ONU está obtendo essas informações?
Lassegue – Não sei.
BBC Brasil – Mas no sábado, a relações públicas da ONU anunciou que o governo haitiano havia encerrado a busca por sobreviventes…
Lassegue – Não, não. O presidente nunca interrempeu as buscas, nem o primeiro-ministro. E ontem nós encontramos um homem vivo sob escombros. Nunca dissemos isso.
BBC Brasil – E qual a sua opinião sobre isso?
Eu nem conheço o funcionário das Nações Unidas que deu essa informação. O que eu posso te dizer é que estamos aqui todos os dias, desde as 8h, para prestar informações.
BBC Brasil – O seu escritório é aqui mesmo, debaixo da árvore?
Lassegue – Sim. A Usaid está montando uma tenda para nós. E temos aqui duas linhas de emergência, para que as pessoas possam obter informações.
BBC Brasil – O governo também tem divulgado com certa precisão o número de mortos. Como vocês estão fazendo essa contagem?
Lassegue – Há dois dias, durante uma coletiva de imprensa, pedimos à população que coloquem os corpos em frente aos cemitérios ou igrejas. Assim fica mais fácil para nós coletá-los e também contá-los. No momento, temos entre 120 mil e 150 mil mortos, mas é claro que os números serão maiores.
BBC Brasil – Existe uma espécie de discussão entre países como Estados Unidos e Brasil sobre quem vai liderar a recuperação do Haiti. O que a senhora pensa sobre isso?
Lassegue – Não tenho conhecimento dessa disputa. A liderança tem de ser do governo do Haiti. Outros países poderão nos ajudar, mas nós temos a liderança.
BBC Brasil – Quais são os principais problemas do Ministério, nesse momento?
Lassegue – Precisamos de meios de comunicação. Preciso de computadores, de uma impressora, pelo menos. Perdemos tudo.
BBC Brasil – Onde você estava na hora do terremoto?
Lassegue – Nosso prédio, que era perto do Palácio, caiu. Eu estava em uma reunião, na minha sala. Meu chefe de gabinete está morto.
BBC Brasil – A senhora chegou a pensar em desistir do cargo, em função da tragédia?
Lassegue – Não. Eu tenho de entender que eu não tenho escolha. Eu sou uma militante feminista, uma política mulher, não posso desistir. Existem mulheres que se espelham em mim. Se eu desistir, o que eu vou dizer para elas? Eu tenho que lutar e ganhar.
Fonte: BBC Brasil