por Fernanda Pompeu
Acho que eu tinha sete anos quando escolhi que nunca seria mãe. Foi num 25 de dezembro, dia que as crianças se refastelam com os presentes do papai-noel. Eu estava penteando o cabelo loiro e sintético da minha boneca. Pensei com firmeza: “No futuro, não quero isso para mim.”
A partir desse insight toda vez que um adulto perguntava o que você quer ser quando crescer, eu respondia: “Tia”. E assim foi. Não tive filhos, mas uma penca de sobrinhos. Igor, Camila, Gabriel,Caio, Jerônimo, Ludmila, Diogo, Thalia, Davi, Maisa.
Sete deles hoje crescidos e encaminhados. Digo que adorei e sigo adorando ser tia. Pois não precisei me responsabilizar pela educação e o bem-estar de suas almas. Quando crianças, sempre apareciam na minha frente de banho tomado e sorriso no rosto.
Naturalmente tentei em várias ocasiões influenciá-los. Para todos dei livros nos aniversários. E, secretamente, desejei que algum deles seguisse minhas escolhas, melhor, meu amor pela escrita. Quem sabe um jornalista, uma escritora, um editor, uma dramaturga?
Mas, é claro, cada um correu atrás de seu sonho e circunstância. Eis algo que tias talvez aceitem melhor que mães: garotas e garotos serão e farão o que bem entenderem. Do mesmo jeitinho que eu decidi que a maternidade não era papo para mim.
Tudo bem se um homem não quiser ser pai. Mas para uma mulher, a pressão da cultura é máxima. A maternidade é tida como uma consequência natural do feminino. Ou só há compreensão quando a mulher, por uma complicação biológica, não puder parir.
Bobagem. Tenho certeza que a maternidade não é para todas.
Mas não quero fugir do tema titia. Vou falar das vantagens. Por exemplo, a gente pode dizer na cara do sobrinho algumas verdades que a mãe sabe, porém omite. Porque o coração materno é mais mole e sua preocupação infinita.
Para os sobrinhos sempre disse: “Lavem a louça que usam e, por favor, arrumem seus quartos!” Já para as sobrinhas: “Arranjem uma ótima profissão e ganhem seu próprio dinheiro”. Conselhos de tia.
Imagem: Régine Ferrandis.