TO: Movimento Negro e entidades repudiam utilização do nome de Zumbi em operação da Polícia Civil

O movimento Negro e demais entidades repudiaram veementemente nesta sexta-feira, 20, a utilização do nome do herói negro Zumbi, pela Polícia Civil do Tocantins na “Operação Zumbi” deflagrada hoje para combater o tráfico de drogas na capital.

Segundo nota, o ato revela o despreparo das instituições do estado brasileiro para se lidar com as questões étnico raciais e, ao denominar a ação de “Operação Zumbi”, a Policia Civil do Estado do Tocantins passa uma mensagem subliminar de que os infratores da lei, ou traficantes de drogas supostamente estariam entre a população negra de Palmas.

A nota encerra afirmando que as entidades reiteram o apoio às ações que visem combater a violência e ao crime organizado, assim como defendem políticas publicas de esporte, lazer, distribuição de renda e investimentos maciços em educação. “Contudo, solicitamos que a Policia Civil tenha zelo ao dar os nomes nas suas operações”, conclui.

Confira abaixo a nota na íntegra.

Nota de Repúdio

O Movimento Negro e demais entidades do Estado do Tocantins repudiam, veementemente, a utilização do nome do herói negro Zumbi, pela Polícia Civil do Tocantins na “Operação Zumbi” deflagrada nesta sexta-feira, 20, com objetivo de intensificar o combate ao uso e ao tráfico de substâncias entorpecentes na Capital.

O ato em si revela o despreparo das instituições do estado brasileiro para se lidar com as questões étnico raciais. Na maioria das vezes é atribuída a população negra os atos de delitos que ocorrem no país, isso talvez seja explicado porque 70% dos pobres são negros e negras.

O povo brasileiro, em toda a sua diversificação, é um povo uno, uma raça só oriunda de diversas outras etnias, mas o mito da Democracia Racial não pode esconder uma outra realidade nacional: o racismo.

Ao denominar de “Operação Zumbi” uma ação que visa o combate ao uso e ao tráfico de substâncias entorpecentes na Capital, a Policia Civil do Estado do Tocantins passa uma mensagem subliminar de os infratores da lei, ou traficantes de drogas supostamente estariam entre a população negra de Palmas, além de ofender a memória de um herói nacional.

Zumbi dos Palmares nasceu no ano de 1655 em Alagoas. Reconhecido como um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial se tornou líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. Esse quilombo estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares em Alagoas. Na época em que foi líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Ali, os negros viviam livres produzindo tudo o que precisavam para a própria sobrevivência. Zumbi é um símbolo da resistência e luta contra a escravidão, Zumbi lutou pela liberdade de culto e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.

Um exemplo típico de racismo institucional se comprovam com os dados de pesquisas de renomados institutos do Brasil, que revelam que os negros são abordados com mais freqüência em batidas policiais, recebendo mais insultos e agressões físicas do que os indivíduos brancos. Por questão desta abordagem, são igualmente mais revistados que pessoas de outra etnia. A escolaridade e a condição financeira têm pouca influência sobre a freqüência e incidência destas batidas policiais e da violência que ora se comete. Esta violência é praticada quase sempre contra indivíduos negros, seja na forma de ofensa verbal ou agressão física. Conclui-se que os métodos de abordagem da polícia junto ao indivíduo levam em consideração sua aparência física (vestimentas), a etnia (fatos principal) e um estereótipo completamente fora de sentido: a expressão facial da pessoal.

Não se pode ignorar o racismo, o preconceito, a discriminação, aceitando os estereótipos que marginalizam, oprimem, humilham e matam o povo negro. A Constituição de 1988 soube repudiar a marginalização do negro, tipificando o racismo como crime em seu artigo 5° , inciso XLII. Mesmo assim, ainda imperam no país diferentes formas de discriminação racial, velada ou ostensiva, que afetam mais da metade da população brasileira, constituída de negros ou descendentes de negros privados do pleno exercício da cidadania. Os casos de discriminação racial que vêm acontecendo durante anos neste país merecem uma apreciação mais cuidadosa por parte das autoridades, correndo o risco de se transformar (se é que já não se transformou) num ato de omissão diante do dever do direito em realizar a justiça.

Reiteramos nosso apoio às ações que visem combater a violência e ao crime organizado, bem como defendemos políticas publicas de esporte, lazer, distribuição de renda e investimentos maciços em educação para que possamos não condenar nossos jovens futuro do nosso pais, a pobreza e a criminalidade. Contudo, solicitamos que a Policia Civil tenha zelo ao dar os nomes nas suas operações, sob pena de incorrer em situação reprovável, mesmo que involuntariamente e que possamos respeitar o legado de luta, de liberdade e respeito a pessoa humana que Zumbi dos Palmares nos deixou.

Assinam:

Coletivo Nacional Enegrecer/TO

Agentes de Pastoral Negra – APNs/TO

Diretoria de Combate ao Racismo da UNE

Grupo de Consciência Negra do Tocantins – GRUCONTO

Fórum Permanente de Educação e Cultura Afro Brasileira do Tocantins

Grupo de Estudos Feministas Dina Guerrilheira

Diretório Central dos Estudantes – UFT

Centro de Direitos Humanos de Palmas

Instituto Art Afro e Direitos Humanos de Miracema – TO

Fonte: Conexão Tocantins

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