Todas as cores favoritas, a diversidade e a economia

A diversidade tem um custo. Heterogeneidade de preferências, preconceitos e racismo podem levar a escolhas que não beneficiam a sociedade. A opressão contra minorias afeta as oportunidades individuais e tende a desencadear conflitos e instabilidades de ordem política e social.

Na economia, Alesina e La Ferrara são dois grandes nomes que procuraram entender a influência da diversidade. Em um artigo, argumentaram que países mais diversos são mais propensos a apresentar piores gestões políticas e maiores desafios econômicos (“Ethnic Diversity and Economic Perfomance”, 2005).

A literatura acadêmica destaca que a variabilidade de preferências dificulta a tomada de decisões. Países menos homogêneos podem ter o domínio de um grupo populacional sobre os demais. Aqueles que detêm poder fazem regras que os beneficiam.

O altruísmo e a benevolência apresentam dificuldades para romper linhas étnicas. Assim, a provisão eficiente de bens públicos e políticas sociais voltadas para o desenvolvimento dos grupos marginalizados fica comprometida.

Além disso, a participação em atividades sociais também tende a ser afetada negativamente em locais etnicamente fragmentados (“Participation in Heterogeneous Communities”, 2002).

Por meio de entrevistas, Luttmer encontrou uma relação positiva entre o apoio às políticas de bem-estar e o percentual da população que tinha a mesma raça do entrevistado na comunidade (“Group Loyalty and the Taste for Redistribution”, 2001).

Nesse âmbito, a dominância de determinados grupos sobre os demais compatriotas pode afetar o progresso e aumentar a marginalização de parcela da população. Por sua vez, a exclusão social impacta negativamente o desempenho econômico.

Easterly e Levine descobriram que a fragmentação étnica explica parte significante das diferenças dos países africanos no que diz respeito às políticas públicas e indicadores econômicos (“Africa’s Growth Tragedy: Policies and Ethnic Divisions”, 1997).

Entretanto, a diversidade também tem benefícios. De acordo com o primeiro artigo da declaração universal sobre a diversidade cultural da Unesco: “A diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza”.

A variabilidade nas habilidades e as diferenças de percepção trazem o potencial de impactos positivos sobre produtividade e inovação. Porém, para gerir a diversidade, é preciso um conjunto institucional bem estruturado. As diferenças nas visões de mundo podem virar uma recorrente fonte de confusões.

Estudos de casos sugerem que grupos diversos desempenham melhor suas atividades quando existem regras bem definidas para limitar possíveis conflitos derivados das divergências de opiniões.

As diferenças de percepções, conjuntamente com a habilidade cognitiva, também podem afetar a resolução de problemas complexos. Hong e Page formalizaram um modelo teórico para analisar essa relação. Em determinadas condições, grupos menos diversos, mas com alta habilidade para resolver problemas, apresentam pior desempenho do que grupos heterogêneos com habilidade limitada (“Diversity and Optimality”, 1998).

Nesse contexto, os países ricos têm melhores instituições e, assim, se beneficiam do lado positivo da diversidade. Os pobres tendem a ficar somente com o negativo. Nessas nações, as regras do jogo da vida costumam ser aquelas que atendem aos anseios do grupo dominante.

O título é uma homenagem à música “Colors”, de Eric Burton.

 

Michael França

Doutor em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

 

Fonte: Michael França, da Folha de S.Paulo 

+ sobre o tema

Quilombolas vencem eleição para prefeito em 17 cidades

Candidatos que se declararam quilombolas venceram as eleições para...

Saiba quem são os 55 vereadores eleitos para a Câmara Municipal de São Paulo em 2024

Os moradores de São Paulo elegeram 55 vereadores neste...

Constituição, 36 anos: defender a democracia

"A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação...

A cidadania vai além das eleições

Cumprido ontem o dever cívico de ir às urnas...

para lembrar

13 pontos para embasar qualquer análise de conjuntura

O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste...

Gastronomia afro diaspórica é tema de novo curso da Escola IC

Em 12 de julho entra no ar na Escola...

Sociedade brasileira é ‘racista’, afirma futuro presidente negro do TST

Primeiro negro eleito para presidir o Tribunal Superior do...

Eleições municipais são alicerce da nossa democracia

Hoje, 155,9 milhões de eleitores estão aptos a comparecer às urnas e eleger seus prefeitos e vereadores. Cerca de 400 mil candidatos, sendo 13.997...

Eleição: Capitais nordestinas matam 70% mais jovens que Rio de Janeiro

As capitais nordestinas matam cerca de 70% mais jovens do que a cidade do Rio de Janeiro, que costuma estar nos noticiários com cenas...

Cresce número de empresas sem mulheres e negros em cargos de direção, mostra B3

A presença de mulheres e pessoas negras em cargos de direção em empresas listadas na bolsa brasileira regrediu em 2024, em comparação com o...
-+=