Todas as cores favoritas, a diversidade e a economia

FONTEPor Michael França, da Folha de S.Paulo
O economista Michael França - Foto: Bruno Santos/Folhapress

A diversidade tem um custo. Heterogeneidade de preferências, preconceitos e racismo podem levar a escolhas que não beneficiam a sociedade. A opressão contra minorias afeta as oportunidades individuais e tende a desencadear conflitos e instabilidades de ordem política e social.

Na economia, Alesina e La Ferrara são dois grandes nomes que procuraram entender a influência da diversidade. Em um artigo, argumentaram que países mais diversos são mais propensos a apresentar piores gestões políticas e maiores desafios econômicos (“Ethnic Diversity and Economic Perfomance”, 2005).

A literatura acadêmica destaca que a variabilidade de preferências dificulta a tomada de decisões. Países menos homogêneos podem ter o domínio de um grupo populacional sobre os demais. Aqueles que detêm poder fazem regras que os beneficiam.

O altruísmo e a benevolência apresentam dificuldades para romper linhas étnicas. Assim, a provisão eficiente de bens públicos e políticas sociais voltadas para o desenvolvimento dos grupos marginalizados fica comprometida.

Além disso, a participação em atividades sociais também tende a ser afetada negativamente em locais etnicamente fragmentados (“Participation in Heterogeneous Communities”, 2002).

Por meio de entrevistas, Luttmer encontrou uma relação positiva entre o apoio às políticas de bem-estar e o percentual da população que tinha a mesma raça do entrevistado na comunidade (“Group Loyalty and the Taste for Redistribution”, 2001).

Nesse âmbito, a dominância de determinados grupos sobre os demais compatriotas pode afetar o progresso e aumentar a marginalização de parcela da população. Por sua vez, a exclusão social impacta negativamente o desempenho econômico.

Easterly e Levine descobriram que a fragmentação étnica explica parte significante das diferenças dos países africanos no que diz respeito às políticas públicas e indicadores econômicos (“Africa’s Growth Tragedy: Policies and Ethnic Divisions”, 1997).

Entretanto, a diversidade também tem benefícios. De acordo com o primeiro artigo da declaração universal sobre a diversidade cultural da Unesco: “A diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza”.

A variabilidade nas habilidades e as diferenças de percepção trazem o potencial de impactos positivos sobre produtividade e inovação. Porém, para gerir a diversidade, é preciso um conjunto institucional bem estruturado. As diferenças nas visões de mundo podem virar uma recorrente fonte de confusões.

Estudos de casos sugerem que grupos diversos desempenham melhor suas atividades quando existem regras bem definidas para limitar possíveis conflitos derivados das divergências de opiniões.

As diferenças de percepções, conjuntamente com a habilidade cognitiva, também podem afetar a resolução de problemas complexos. Hong e Page formalizaram um modelo teórico para analisar essa relação. Em determinadas condições, grupos menos diversos, mas com alta habilidade para resolver problemas, apresentam pior desempenho do que grupos heterogêneos com habilidade limitada (“Diversity and Optimality”, 1998).

Nesse contexto, os países ricos têm melhores instituições e, assim, se beneficiam do lado positivo da diversidade. Os pobres tendem a ficar somente com o negativo. Nessas nações, as regras do jogo da vida costumam ser aquelas que atendem aos anseios do grupo dominante.

O título é uma homenagem à música “Colors”, de Eric Burton.

 

Michael França

Doutor em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

 

Fonte: Michael França, da Folha de S.Paulo 
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